Embora ainda seja disparada a protagonista na produção de uvas e vinhos do país, a Serra vem ganhando cada vez mais a parceria de uma região inserida no mesmo Estado: a Campanha. De 1995 a 2012, estima-se que a área ocupada pelos vinhedos tenha crescido 166%, aponta o Cadastro Vitícola da Embrapa Uva e Vinho, chegando a 1,3 mil hectares. A expansão, ao que tudo indica, não parou: a associação Vinhos da Campanha acredita que atualmente o terreno preenchido por parreiras já atinja dois mil hectares.
Esse crescimento fez com que a região assumisse a posição de segunda maior região produtora de vinhos finos do país, abocanhando uma fatia de 25% do total. Ao contrário da Serra, os responsáveis pelos números do setor não são milhares de pequenas propriedades: na Campanha há apenas cerca de 15 vinícolas espalhadas por 11 municípios. A produção em larga escala — motivada entre outros fatores pelo baixo valor das terras na comparação com Bento Gonçalves, por exemplo — impera.
— A Serra implantou o setor vinícola e a Campanha, aproveitando muito do conhecimento já testado por aqui, surgiu como uma nova região produtora. Por ser uma região em que chove menos, tem suas particularidades, como a excelência do Cabernet Sauvignon e do Tannat. A Campanha vem para somar — destaca o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Moacir Mazzarollo.
Além do clima mais seco, pesa a favor da região os terrenos mais planos, sem os costumeiros morros da Serra. O diferencial abre espaço para a possibilidade de mecanização nos vinhedos.
— A mão de obra está cada vez menos produtiva. Antigamente uma máquina substituía 80 pessoas, hoje substitui 120. Na Campanha, além do solo ser plano, ele também é mais arenoso, ou seja, absorve logo e permite que em uma ou duas horas depois de chover a máquina já pode voltar pros vinhedos — explica Fabrício Domingues, engenheiro agrônomo da Almadén, vinícola pioneira na região e que é considerada a maior da América Latina em terreno contínuo.
Depois do crescimento expressivo dos últimos anos, as vinícolas da Campanha buscam agora o reconhecimento da Indicação de Procedência (IP) e, depois, da Denominação de Origem (DO) dos vinhos locais. Essas indicações geográficas — que regiões da Serra como Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira e Altos Montes já possuem — atestam características e fazem os produtos ganhar valor no mercado.
— É importante que se ressalte sempre que a Campanha não disputa mercado com a Serra. Nossos concorrentes são os mesmos: os argentinos, os chilenos, os uruguaios — enumera Giovâni Peres, presidente da associação Vinhos da Campanha.
A produção atual de vinhos na Campanha, conforme a associação, é de 12 milhões litros anualmente. Em cinco anos, a estimativa é que o número pule para 20 milhões.
Por: Ana Demoliner
Foto: Gilmar Gomes
Fonte: Pioneiro
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