sábado, 17 de outubro de 2015

Prós e contras das rolhas de cortiça, sintética, de vidro e screwcap

Quem não torceu o nariz quando abriu pela primeira vez uma garrafa de vinho fechada com screwcap – aquela tampa de rosca – ou quando sacou a rolha do gargalo e viu que ela era de plástico? E há boas chances de os lamentos do tipo “cadê a rolha de cortiça que estava aqui?” terem sido seguidos por uma rápida conclusão: esse vinho só pode ser ruim…
 
Afinal, dizia-se, o vinho envelhece melhor em garrafa enrolhada porque “respira”. E além disso, tem o charme do ritual, aquele negócio de olhar e cheirar a rolha e guardá-la no caso de vinhos célebres.
 
Quinze anos se passaram e a tampa de rosca não é mais tida como afronta à qualidade da bebida. E sim como uma solução eficaz e mais barata para fechar um vinho que vai ser bebido jovem – provavelmente um tinto australiano ou neozelandês, os mesmos que no começo da década de 2000 popularizaram a tampa de alumínio.
 
 
Hoje sabe-se também que o vinho respira com a rolha, mas não como se pensava: “não há contato com o oxigênio de fora da garrafa”, explica Paulo Lopes, da Pesquisa & Desenvolvimento da indústria Amorim. “O que existe é uma troca com os gases presentes nas bolsas de ar da cortiça, que tem de 80 a 90% de sua estrutura composta por ar”, diz. Prova disso é que, atualmente, a maior parte dos vinhos com rolhas de cortiça usa lacres externos. “Eles surgiram para evitar o ataque de insetos”, diz.
 
Enquanto os consumidores foram se livrando de seus preconceitos, pouco a pouco, a indústria da cortiça tratou de buscar alternativas mais baratas para a rolha. Não por acaso: um vinho barato pode chegar ao supermercado por 3 euros na Europa, uma rolha de cortiça natural custa 2 euros. Quer dizer, não faz sentido tapar essa garrafa com essa rolha, que custa mais do que o líquido que vai proteger.
 
Com a ideia de oferecer uma alternativa mais barata à rolha de cortiça, a indústria resgatou a rolha de granulado, que chega a custar até 10 vezes menos do que uma rolha de primeira linha, feita com uma peça única de cortiça. Foi criada também, inspirada nas rolhas de espumante, uma rolha mescla, chamada de 1+1, que tem o corpo feito de granulado grosso de cortiça (entre 3 e 7 mm) e, em cada extremidade, um disco de rolha natural – assim, o vinho fica em contato com a cortiça de qualidade superior.
 
As recentes invenções da indústria corticeira incluem também uma tampa de cortiça com ranhuras – que fecha garrafas especiais, também com ranhuras – e que segue a mesma lógica do screwcap, dispensa saca-rolhas e pode voltar a fechar a garrafa do vinho que não foi bebido inteiro.
 
Assim, a rolha de cortiça se multiplicou em uma série de modelos, cada uma mirando um uso específico e tentando recuperar os espaços ocupados por outras tampas de garrafa de vinho tranquilo ou espumante.
 
Além disso, a indústria investiu pesado também em tecnologia para minimizar um problema grave: a contaminação dos vinhos por TCA, transmitido pelo contato da rolha com a bebida. A fama da rolha de estragadora de vinhos nunca foi indevida, houve um tempo em que atribuía-se a ela quase 30% da deterioração dos vinhos engarrafados. Hoje é difícil conseguir o número exato, mas estima-se que a contaminação atinja cerca de 5% dos vinhos. Entre outros esforços, fez diferença o desenvolvimento de uma máquina que detecta o temido bouchonné nas rolhas assim que saem da fábrica, para evitar que venham a estragar o vinho.
 
ROLHAS
 
70% das garrafas de vinho do mundo são fechadas com rolhas de cortiça; 8% com rolhas de plástico; 10% fica por conta do vidro (somado a bag-in-box e outros métodos) e 12%  com screwcaps.
 
Natural
 
 
É feita com a folha de cortiça integra, extraída da casca do sobreiro, que leva nove anos para crescer.
 
Vantagens: A elasticidade é a maior vantagem. Ela também permite que o vinho evolua com a troca de oxigênio guardado em suas células.
 
Desvantagens: cara, produzida em quantidade limitada e suscetível a contaminação (bouchonné).
 
Granulado
 
 
É a resposta da indústria de cortiça à rolha de plástico. É um “aglomerado”, não um lâmina inteira.
 
Vantagens: preço baixo; elasticidade maior que a das rolhas de plástico.
 
Desvantagens: serve apenas para vinhos de pouca guarda, jovens e para beber logo. Se o granulado for fino demais (menor que 2 mm), perde a elasticidade.
 
Granulado com discos de cortiça
 
 
O modelo clássico é a rolha de espumante, que tem discos de cortiça, mais rígida, para travar no gargalo. A estrutura foi replicada para uma alternativa mais barata.
 
Vantagens: os discos de cortiça têm os benefícios da rolha natural com preço menor.
 
Desvantagens: possibilidade de contaminação (bouchonné).
 
Tampa de cortiça com ranhura
 
 
Dispensa o uso de saca-rolhas.
 
Vantagens: as ranhuras na cortiça e na garrafa permitem abrir com a mão e fechar a garrafa novamente se o vinho não for consumido todo.
 
Desvantagens: possibilidade de contaminação (bouchonné); só funciona em garrafa especial, o que pode sair caro.
 
Sintética (plástico)
 
 
Alternativa mais barata à cortiça.
 
Vantagens: barata, boa para vinhos de pouca guarda; menos propensão a contaminação (bouchonée).
 
Desvantagens: falta de elasticidade que pode atrapalhar a vedação quando o vidro dilata com a temperatura, impedindo a evolução do vinho ou deixando entrar oxigênio demais.
 
Vidro
 
 
Também criada como alternativa à cortiça.
 
Vantagens: não transfere aromas indesejáveis para o vinho e garante a vedação total; é fácil de abrir e de fechar novamente a garrafa, quando sobra vinho.
 
Desvantagens: é cara; a vedação é feita por um revestimento de silicone ou plástico, o que traz as desvantagens das rolhas sintéticas.
 
Screwcap (tampa de alumínio com rosca)
 
 
Principal concorrente da cortiça, foi popularizada pelos vinhos australianos e neozelandeses no começo dos anos 2000.
 
Vantagens: vedação total da garrafa, o que preserva as características do vinho exatamente como foi engarrafado; menor propensão a contaminações; preço médio.
 
Desvantagens: impede a evolução do vinho, que não respira.
 
Por: Miriam Castro
Fotos: Daniel Teixeira/Estadão
Fonte: Estadão

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