sexta-feira, 6 de março de 2015

Pedaladas por vinícolas e brindes à beira de cachoeiras reforçam vindima no Vale dos Vinhedos

Primeiro as brancas, depois as tintas. Cortar os cachos é uma das atividades turísticas que movimentam a alta temporada na Serra Gaúcha. Os vinhedos carregados estão fazendo a cabeça dos visitantes e funcionários das vinícolas, que apresentam programas diferentes para o período: colheita de uvas, piquenique entre os parreirais, passeios de jipe ou de bike e degustação a perder de vista.
 
 
A vindima no Vale dos Vinhedos, a 130km de Porto Alegre, tem início em dezembro e vai até o fim de março. O Vale ocupa 81 quilômetros quadrados e corta as cidades de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Garibaldi. Desponta com larga vantagem em relação à vitivinicultura nacional por ter uma Denominação de Origem, ou seja, sim, podemos dizer que temos nosso próprio “champagne”, ou melhor, espumante, e com muitos predicados.
 
Além da vocação natural para a produção de espumantes, o microclima do local vem despertando a atenção até de artistas. O ator Selton Mello andou percorrendo a região em busca de um cenário para rodar seu terceiro longa, “O filme da minha vida”, adaptação do livro “Um pai de cinema", do chileno Antonio Skármeta (“O carteiro e o poeta”). A obra relata os dilemas e o amadurecimento de um jovem, e o início das filmagens está previsto para abril.
 
Nos arredores deste berço de algumas das melhores borbulhas nacionais, encontramos vinícolas de caráter familiar, como a Cristofoli, que oferece brinde de espumante sobre um edredom estendido no meio das parreiras. Entre as empresas de médio e grande porte, destaque para a Dal Pizzol, um museu ao ar livre de enologia, e a Cave Geisse, que oferece passeio de 4x4 pelos vinhedos e serve um de seus espumantes mais poderosos à beira da cachoeira. A Salton, a maior e uma das mais conceituadas fabricantes no Brasil, recebe o visitante com coleções exclusivas e menu harmonizado. Um luxo só!
 
Além das vinícolas, é possível conhecer parte da história da colonização italiana sobre duas rodas. Nas próximas páginas, confira um roteiro cultural feito de bike, novidade do verão, além, é claro, de algumas dicas valiosas deste surpreendente universo do vinho.
 
ATIVIDADES AO AR LIVRE
 
Visitar a região de Bento Gonçalves no período da vindima significa acordar cedo, arregaçar as mangas e se dedicar ao trabalho nos vinhedos. Colher uvas é um dos programas turísticos do verão na Serra Gaúcha, e algumas das vinícolas, como Dal Pizzol, Garibaldi, Cave Geisse, Cristofoli e Salton, organizam atividades que incluem, além do corte dos cachos, aulas sobre vinho, degustação, e, como é de praxe, fartas refeições com receitas típicas da colônia italiana.
 
A viagem começa a caminho de Bento Gonçalves, partindo de Porto Alegre, de carro. Em aproximadamente uma hora na estrada, a planície da capital começa a dar lugar ao incrível visual da Serra Gaúcha. Tudo vai ficando verde, e, de repente, a pequena Garibaldi, cidade que marca o início do Vale dos Vinhedos, exibe a Peterlongo, dona do primeiro espumante brasileiro, de 1913.
 
À direita, está a Chandon, que aportou na Serra Gaúcha em 1989. O motivo? Mais do que óbvio. A região, a 742m acima do nível do mar, tem a vocação nata para o cultivo de uvas com aptidão para a elaboração de espumantes de qualidade mundial.
 
O Vale dos Vinhedos, batizado assim há 30 anos, tem 70 vinícolas, pertencentes a 30 famílias. Detém a primeira Indicação de Procedência brasileira (2002) e a primeira Denominação de Origem (2012) para as vinícolas que respeitam as rígidas normas de certificação para espumantes de método tradicional — não se diz mais champenoise, desde que o Brasil aceitou as regras da União Europeia em relação à região de Champagne, na França.
 
São três entradas para o Vale dos Vinhedos, e no trajeto de carro, passa-se pela Aurora, que produz o popular Sangue de Boi. Em seguida, pelas vinícolas Torcello e Almaúnica, esta última produtora de vinhos especiais. Não cochile, as casas de madeira sobre pedra, remanescentes da colonização italiana, estão por toda parte. O Spa do Vinho é top, vale como parada para foto. Aproveite para contemplar o poderoso lote 43 de merlot da Miolo, em frente. Desça 15m e prove da uva, uma das favoritas no Brasil. Se tiver sorte, encontrará camponeses com a mão na massa colhendo a fruta. É a chance de fazer o mesmo.
 
Siga em frente, veja a Casa Valduga e inúmeras construções do século XIX, como o restaurante Giordani, a vinícola Larents e a Capela dos Neves, esta última foi construída com tijolos e argamassa à base de vinho. Pertinho dali, na Cogumelos da Serra, é possível caçar cogumelos.
 
Uma das mais familiares entre as vinícolas do distrito de Faria Lemos, a Cristofoli oferece tour ideal para encerrar o dia. Começa com o rosé da casa, Perso (perdido, em italiano) servido na entrada e termina com o brut (também Perso) no edredom, estendido entre as videiras (R$ 80).
 
O pequeno negócio começou na casa da avó da herdeira e enóloga Bruna Cristofoli, que se despede do visitante com um jantar preparado por sua mãe e familiares, no porão. O espaguete leva salame fresco, cebolinha refogada e parmesão. O tinto sangiovese (variedade italiana) acompanha. A polenta vem com molho de frango (in tocio). Mamma mia!
 
O licor de uva é delicioso e, perfeito para a sobremesa, sagu de moscatel com morangos. A capacidade é para 20 pessoas, a R$ 75 cada. Na parte mais nova do espaço, há uma loja, onde são comercializados cosméticos, geleias, óleos e até cachaças.
 
PEDALADA HISTÓRICA
 
Uma das novidades entre os passeios culturais são os circuitos de bike da rede de hotéis Dall’Onder. Adrenalina pura, banhada a história. Desde novembro, roteiros de duas a oito horas, com subidas e descidas moderadas, entraram no mapa da principal região vinícola do Brasil.
 
Um dos mais atraentes, entre os cinco trajetos do programa — batizado de “Que tal de bike?” — é o Caminhos de Pedra. O destino final é a Casa da Erva Mate, e as paisagens são de tirar o fôlego. A pedalada cultural, que dura, em média, três horas (10km, nível 1: fácil), passa por casas de pedra e madeira, erguidas pelos italianos, que ali chegaram a partir de 1870. Repare que, ao longo do caminho, descendentes dos colonos realizam afazeres diários, manuseando máquinas de tear ou pastorando ovelhas.
 
Um micro-ônibus leva o visitante do hotel ao ponto de partida, onde estão as magrelas turbinadas. Não é exclusividade do hóspede participar. Equipamentos de segurança, como o capacete, estão incluídos.
 
A 5km do início do percurso, a Casa da Ovelha é uma parada que encanta crianças e adultos. Oferece degustação, pastoreiro de ovelhas e amamentação de cordeiros, além de uma pequena loja de laticínios (queijos e iogurtes de cabra, sem lactose). O imóvel, de madeira, é de 1917 e representa o segundo período da arquitetura da região.
 
Se o cansaço bater, não se preocupe, o passeio é acompanhando por veículo de apoio, onde é possível descansar e se hidratar. Os cicloviajantes são acompanhados em tempo integral por uma equipe treinada para orientar a nova onda entre os afixionados por vinhos.

Por: Bruno Calixto
Imagens: Bruno Gomes
Fonte: O Globo

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