Embora ainda seja a protagonista da produção de uvas e vinhos no país, a Serra vem ganhando a parceria de outra região gaúcha: a Campanha. Há produção de uvas e vinhos em Alegrete, Bagé, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana.
De 1995 a 2012, segundo o Cadastro Vitícola da Embrapa Uva e Vinho, 1,3 mil hectares passaram a ser ocupados por vinhedos. E a expansão segue: a Associação Vinhos da Campanha calcula que hoje são 2 mil hectares, fazendo com que a região se torne a segunda maior produtora de vinhos finos do país, com 25% do total.
Ao contrário da Serra, caracterizada por pequenas propriedades, na Campanha existem hoje cerca de 15 vinícolas em 11 municípios. São produzidos 12 milhões de litros por ano, e a meta é chegar a 20 milhões de litros em cinco anos, conforme a Associação de Vinhos da Campanha. A produção em larga escala é motivada, entre outros fatores, pelo valor mais acessível das terras.
Por ser uma área em que chove menos, tem suas particularidades, como a excelência do cabernet sauvignon e do tannat. Vem para somar — destaca o presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Moacir Mazzarollo.
Além do clima mais seco, pesa a favor da região o fato de dispor de terrenos mais planos, que permitem a mecanização nos vinhedos. Antigamente, uma máquina substituía 80 pessoas. Hoje, chega a 120.
Na Campanha, além de o solo ser plano, também é mais arenoso, facilitando a absorção e permitindo que uma ou duas horas depois de chover a máquina já possa voltar aos vinhedos — explica Fabrício Domingues, engenheiro agrônomo da Almadén.
Agora, as vinícolas da Campanha buscam o reconhecimento da Indicação de Procedência (IP) e, depois, da Denominação de Origem (DO) dos vinhos locais. Os atestados fazem com que os produtos ganhem valor no mercado. A Campanha não disputa mercado com a Serra. Nossos concorrentes são Argentina, Chile e Uruguai – enumera Giovâni Peres, presidente da Associação Vinhos da Campanha.
Enoturismo no radar
Além da produção crescente de vinhos, o enoturismo também desponta na Campanha como alternativa de negócio. A Guatambu Estância do Vinho, em Dom Pedrito, foi precursora na ideia. Abrangendo três opções de roteiros, a vinícola oferece turismo rural e a possibilidade de o visitante cavalgar pelos campos e vinhedos. A propriedade abriga ainda prédio de arquitetura espanhola com auditório, loja e salão de eventos para 200 pessoas. Desde junho de 2013 até fim do ano passado, recebeu cerca de 7 mil turistas.
Com plantio em 30 hectares, empresa Bueno Bellavista Estate produz vinhos finos em Candiota (Foto Gilmar Gonçalves). |
Mesmo sendo uma das vinícolas mais recentes da Campanha — os primeiros vinhedos foram plantados em 2011 —, a Bueno Bellavista Estate já é uma das mais badaladas da região. A fama do empreendimento se deve, principalmente, a um dos sócios proprietários: o narrador esportivo da TV Globo Galvão Bueno.
Hoje, a propriedade conta com 108 hectares, mas por enquanto só 30 deles têm vinhedos plantados. A última produção rendeu 150 mil quilos de uvas e deve aumentar neste ano. O processo de vinificação e engarrafamento é feito em Bento Gonçalves, na Miolo Wine, grupo ao qual o empreendimento pertence.
Um dos diferenciais da vinícola é o investimento nos vinhedos, destaca o agrônomo responsável, Edvard Khon. Enquanto o custo normal em um hectare é de cerca de R$ 60 mil, vai a R$ 100 mil na Bueno. O investimento total nos vinhedos já girou em R$ 3 milhões. São cuidados que levam o vinhedo para a longevidade, como a drenagem e a sustentabilidade — explica Khon.
A estratégia permite à Bueno ser uma das poucas nacionais a disputar espaço no mercado de vinhos premium. Os exemplares variam de R$ 40 a R$ 400.
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