terça-feira, 29 de abril de 2014

Mamadeira de Vinho

No mês passado, passei parte das minhas férias em Paris com o meu namorado. Eu já conhecia a cidade, mas Paris é um daqueles lugares em que cada ida é como se fosse a primeira.

Por estarmos no fim do inverno, decidi qual seria o cardápio do primeiro jantar antes mesmo da viagem: fondue. Procurei no TripAdvisor e encontrei um tal de Le Refuge des Fondus, com recomendações de alguns viajantes dizendo que o local era aconchegante e informal, duas qualidades que eu prezo, e, além do mais, era em Montmartre, bairro que é cenário de vários filmes que eu amo. Então, pegamos um táxi e rumamos para lá.

Assim que chegamos, já estranhei o fato de o garçom estar na porta, fumando. Na verdade, naquele momento eu ainda não sabia que ele era um garçom, parecia um cliente meio “largado”, com cabelo comprido e roupas um pouco encardidas... Mas assim que nos viu, perguntou se queríamos uma mesa para dois. E aí veio a primeira surpresa: ele se virou e eu notei que dentro da calça, bem ali no “cofrinho”, estava aquela tampa de abafar o fogo do fondue. Achei inusitado o local de guardar o objeto, mas tudo bem, afinal o fogo provavelmente o esterilizava a cada uso... Mas aí veio o segundo susto: o restaurante possui duas grandes mesas que vão de uma parede à outra. O garçom me deu a mão e fez sinal para que eu pisasse na cadeira e pulasse, pois era a única forma de se chegar ao outro lado. Obedeci, achando graça, mas ao mesmo tempo agradecendo mentalmente por não ter saído de vestido naquela noite.

Assim que nos acomodamos, ele perguntou: “Vinho tinto ou branco?”. Ou seja, aquela era a única escolha possível. A marca ou a uva? A gente podia esquecer... Respondemos que queríamos tinto e então tivemos mais uma surpresa... No segundo seguinte, ele colocou na nossa frente duas mamadeiras! Sem brincadeira. Meio sem entender, olhei para os outros clientes que estavam sentados na longa mesa e vi que todos também estavam com mamadeiras e mamavam aquele vinho como se fossem bebês tomando leite.
 


 Ok, tenho que fazer uma confissão: eu sou meio fresca. Daquelas que dá uma boa olhada nos talheres antes de tocar na comida. Então você pode imaginar o que senti quando olhei para os bicos das tais mamadeiras e vi que eles estavam encardidos, dando a impressão de estarem sendo usados por vários e vários anos. E o pior... Sem serem lavados devidamente.

Claro que eu desisti do vinho. Pedi uma água ao perceber que aquela era a única bebida que era servida em copos. Mas não parou por aí. Enquanto esperávamos o fondue, que o garçom apenas perguntou se seria de queijo ou carne, olhei para o lado e vi que a parede era toda coberta de dinheiro do mundo inteiro. Os clientes pregavam notas com mensagens e isso fazia a decoração do local. Achei a ideia bem bacana, até que o garçom chegou com o pão e a panela de fondue e os colocou bem ao lado da tal parede, praticamente encostados em todo aquele dinheiro imundo...
 
 Depois disso, eu até perdi o apetite. Mas ainda assim provei o fondue, para ver se o sabor compensava aquilo tudo. Infelizmente, ele também me decepcionou. Estava completamente sem tempero, meio ralo, e bem inferior aos fondues que eu já tinha comido no Brasil mesmo.

Saí de lá meio chateada, talvez por ter ido esperando um lugar com uma mesinha para duas pessoas, com velas e ambiente romântico... Ou, quem sabe, pela minha “frescura” que contei acima. Mas o fato é que o local realmente não me agradou.

No último dia em Paris, por sorte, enquanto visitava a Catedral de Notre-Dame, ouvi uma brasileira indicar para a amiga uma rua cheia de restaurantes. Resolvemos dar uma passada no lugar, e qual foi a minha admiração ao constatar que a especialidade de todos eles era fondue? E o melhor... Cada um com ambiente mais romântico do que o outro!

Então, fica a minha dica. Se você for viajar para Paris e quiser jantar em um lugar bem aconchegante e à luz de velas, escolha algum da rue de la Huchette, na região de Saint Michel. Agora, se preferir comer em um local inusitado e original, que te renderá boas histórias e até uma crônica, vá direto para o Le Refuge des Fondus. Aventura garantida ou seu dinheiro de volta...
 
Por Paula Pimenta
Fonte: Opinião

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