As mudanças climáticas estão afetando a produção de vinho na França e na Suíça, tornando mais difícil a ocorrência das condições ambientais favoráveis para a obtenção de uvas de melhor qualidade. Um estudo feito pela Nasa em parceria com a universidade de Harvard identificou que o intervalo de tempo das safras tem se reduzido, com a ocorrência de colheitas antecipadas com maior frequência. A mudança, atrelada a ausência do clima seco no final de safra, bagunça as condições ideais para a fabricação de vinho.
Vinhedos franceses estão tendo colheitas antecipadas como consequência das mudanças climáticas globais. |
Os pesquisadores analisaram dados de colheitas de uvas para a fabricação de vinho entre os anos de 1600 e 2007. Enquanto em safras antigas, datadas entre 1600 e 1980, as colheitas antecipadas ocorriam em anos mais quentes e secos, de 1981 a 2007 o aquecimento global teria promovido colheitas adiantadas mesmo em anos sem seca. O estudo foi publicado na revista Nature Climate Change.
A descoberta é importante porque os vinhos de maior qualidade são tipicamente associados a colheitas antecipadas em vinhedos localizados em regiões mais frias, como a França e a Suíça. Contudo, a antecipação das colheitas não estão gerando melhor safras devido à ausência da seca. "Há cada vez mais evidências de que a mudança climática tem causado colheitas antecipadas nessas regiões", diz Ben Cook, pesquisador do Instituto Goddard da para Estudos do Espaço, da Nasa. "Nossa pesquisa sugere que mudanças nas condições climáticas são as causas desses adiantamentos", completa.
Indicadores de qualidade do vinho mostram que os melhores anos para a colheita da uva são aqueles de verão quente, com chuvas acima da média no início do cultivo e seca no final da safra. "Calor e umidade permite que as videiras cresçam cedo no início da safra, enquanto as condições mais secas do final possibilitam maior produção de frutos," diz a ecologista Elizabeth Wolkovich, do Departamento de Biologia Evolucionária da Universidade de Harvard.
Vinhos piores
Na análise que abrange 400 anos de colheitas de uva para vinho na Europa Ocidental, os pesquisadores levaram em consideração dados climáticos, de variações de safras, precipitação e umidade do solo. Os números obtidos foram comparados com classificações de qualidade de safras de vinho nas regiões de Bordeaux e Borgonha, na França.
Os resultados indicam uma mudança fundamental no papel da seca e da umidade para o tempo de colheita e a obtenção de vinhos de qualidade. Apesar de as temperaturas quentes estarem associadas a colheitas antecipadas e vinhos de alta qualidade, o impacto da seca praticamente desapareceu nas últimas décadas. A ausência do período seco, consequência das mudanças climáticas de larga escala, inviabilizariam a obtenção dos melhores vinhos.
"A qualidade do vinho depende também de uma série de fatores que vão além do clima, incluindo variedades de uva, solos, gestão da vinha etc", diz Cook. "No entanto, nossa pesquisa sugere que as condições climáticas sob as quais o vinho é produzido mudaram. Isso é fundamental para os produtores de vinho da França, Suíça e outras regiões vitícolas", completa.
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