quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Paulo Laureano Tradições Antigas 2010

Há alguns dias Fernanda nos preparou um belo talharim ao molho de tomate com manjericão e para harmonizar escolhi um vinho que há muito paquerava: Paulo Laureano Tradições Antigas, da safra de 2010. Tanto eu quanto Fernanda somos fãs dos vinhos deste tradicional produtor português e por aqui já passaram diversos rótulos dele.
 
O Paulo Laureano Tradições Antigas 2010 teve uma pequena produção, como usualmente o é. Foram apenas 2400 garrafas e 600 talhas. Infelizmente não consegui uma talha, pois, pela sua pequena produção, tão logo as belas talhas chegaram aos estabelecimentos logo se vão.
 
A produção de vinho em talha, grandes ânforas de barro, remonta à civilização romana. Portugal tal como toda a Ibéria (Península Ibérica) foi objeto da ocupação deste povo durante séculos. A sua marca nalguns dos setores econômicos perdurou até aos dias de hoje, sobretudo na atividade agrícola.
 
É surpreendente como muitos destes utensílios foram usados até há muito poucos anos atrás. O fabrico do vinho em talha se manteve nas terras alentejanas ao longo dos séculos, sem grandes alterações na sua essência. Assumiu inclusive uma importância determinante na forma como o vinho foi produzido no Alentejo nos séculos XVIII e XIX. São Pedro do Corval junto a Reguengos e Monsaraz e Campo Maior no norte Alentejano eram dois dos mais importantes centros de produção de talhas nessa altura devido à riqueza dos seus solos em argila.
 
Após a enorme “revolução” que a vitivinicultura alentejana sofreu no final do século XX, com a modernização das suas adegas e mesmo na primeira metade do século em que a cultura da vinha foi muito restringida no Alentejo, a produção de vinhos de talha baixou bastante e centros importantes como Cabeção na região centro do Alentejo praticamente desapareceram em termos da produção deste tipo de vinho.
 
Restaram duas importantes áreas que souberam resistir ao evoluir dos tempos. Algumas pequenas adegas na região de Borba e da região de Vila de Frades junto à histórica região vitivinícola da Vidigueira, lado a lado com um dos centros arqueológicos testemunho da presença romana na Península Ibérica.
 
Nos últimos anos a produção destes vinhos históricos tem sido incentivada nesta área da Vidigueira e hoje a sua preservação está assegurada mantendo todas as suas características integrais.
 
A Paulo Laureano Vinus, na Adega do Monte Novo de Lisboa existe uma coleção de 14 talhas do século XIX ainda em ótimas condições de conservação. A capacidade das talhas varia de 1.500 a 2.300 litros. Decidimos por isso aderir também a este espírito cultural de preservação e desenhamos para o Brasil em exclusivo um vinho de talha construído de uma forma quase integral como se estivéssemos na época dos Césares.
 
Foram colhidas uvas das nossas vinhas antigas misturando, Aragonês, Trincadeira, Alfrocheiro, Tinta Grossa e Alicante Bouschet que foram esmagadas e desengaçadas de forma tradicional num ripanso (velha peça em madeira que serve para desengarçar e esmagar ligeiramente as uvas de forma manual).
 
Depois de colocadas em duas talhas, as uvas fermentaram durante 8 dias com vários recalques (rebaixamento das partes sólidas para o interior do mosto em fermentação) com cruzetas de madeira para uma boa extração de cor e taninos.
 
Finalizada a fermentação foi deixado que o vinho se clarificasse naturalmente através da deposição de todos os sólidos no fundo da talha. Quando isso aconteceu, foi retirado o vinho já fermentado, que passando pelas partes sólidas (cascas, sementes e alguns engaços) foi filtrado. Por fim o vinho madureceu em tanques de inox durante alguns meses para um melhor afinamento aromático e de estrutura.

Mas, depois desses relatos vamos ao resultado do líquido que resulta deste interessante processo.

Visualmente o vinho mostrou uma cor rubi com halo mostrando sinais de evolução. Aroma com uma presença marcante de frutas escuras,notas de especiarias e algum balsâmico. Em boca mostrou taninos macios e boa acidez, repetiu as notas do nariz, com final de boca levemente adocicado e com fruta em compota de café aparecendo no retrogosto.

Vinho leve e fácil de beber. Ideal para ser bebido jovem e para acompanhar pratos leves. Bom custo versus benefício aqui em Recife, mas não creio que vale R$ 60, que é o preço médio cobrado em sites especializados.


O Rótulo

Vinho: Paulo Laureano Tradições Antigas
Tipo: Tinto
Castas: Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez, Tinta Grossa e Trincadeira
Safra: 2010
País: Portugal
Região: Alentejo
Produtor: Paulo Laureano Vinus
Graduação: 13,5%
Onde comprar: RM Express
Preço médio: R$ 38,00
Temperatura de serviço: 16º

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