Beber um copo de vinho depois do trabalho ou durante uma saída ao fim de semana (sem ser recorrente durante a semana) não é grave. E se nesta altura do ano começou a beber um pouco mais, a época é propícia.
Mas há alguns senãos. Estes, aparentemente, hábitos inofensivos têm-se tornado num 'assassino' silencioso, contribuindo para o aumento de mortes por doença de fígado, por exemplo. Mas como saber quando o nosso hábito de beber está a se tornar um problema.
Acordar durante a noite
Acordar diversas vezes durante a noite para ir ao banheiro pode ser um sinal de que está a beber mais do que aquilo que o seu corpo aguenta.
De acordo com Rizwan Hamid, do London Urology Associates, no Reino Unido, o nosso corpo tem um hormônio antidiurético responsável por regular a quantidade de urina no nosso corpo. Este hormônio se comunica com os rins para que estes processem a urina de forma mais concentrada, logo há menos volume produzido. Durante a noite produzimos essa hormônio em maior quantidade, daí não termos necessidade de nos levantar tanto. Mas quando há álcool no sistema, a produção do hormônio diminui, o que leva a uma maior produção de urina. Hamid refere que se bebermos regularmente é normal acordar para ir ao banheiro. Mas não é normal pessoas com menos de 65 anos de idade passarem a noite a acordar por essa razão. E mesmo pessoas com mais de 65 anos não devem levantar-se mais do que uma vez.
Olhos secos ao acordar
A bebida pode fazer com que os olhos pareçam secos. O álcool não só desidrata o corpo, como pode acabar por interferir na produção lacrimal, o que significa olhos menos lubrificados e até pegajosos. Se acordar demasiadas vezes com os olhos secos, reveja a quantidade de álcool que está a ingerir.
Ansiedade pela bebida pós trabalho
Se o seu pensamento está focado num copo de vinho e torna o seu dia complicado de levar, pode ser o primeiro indício de um problema mais sério. Embora à primeira vista possa não ser visto como um problema, o fato é que quando durante o dia pensamos apenas em 'chegar a casa e beber algo' ao invés de 'chegar a casa e estar com a família', esse pode ser um claro sinal de alerta.
Por vezes as pessoas usam o álcool para se auto medicar, principalmente quando estão deprimidos ou num estado de ansiedade. No entanto, o álcool tem efeitos depressivos, logo pode tornar as coisas mais sérias. Se chegou ao estado de automedicação com recurso a álcool é necessário ir ao ponto anterior a esse estádio e tentar perceber o que aconteceu.
Problemas de estômago
São diversos os problemas de estômago que podem ser um sinal de alerta e demonstrar que está a beber demasiado, como a disenteria. Uma das consequências do excesso de álcool está relacionada com a dificuldade de absorção do excesso de fluidos que está a ingerir, o que resulta num estado 'aquoso' no interior do nosso sistema.
Um outro sinal pode ser dado pela função do fígado, que deixa de processar os elementos gordos de forma correta porque passa demasiado tempo a processar o excesso de álcool.
Se a urina apresentar uma cor mais escura do que o normal e se não se sentir desidratado, pode bem ser um sinal precoce de que o fígado não está a filtrar as células mortas presentes no sangue e outros desperdícios internos. Pelo menos não de forma efetiva.
Todos estes sintomas acontecem antes de uma crise séria de fígado, mas podem ser apenas sinais de que está em risco.
Esquecido e mal-humorado
Embora beber um par de copos antes de deitar o possam ajudar a adormecer, esse sono irá ser fragmentado. A noite será repartida em ciclos e vai acordar mais cansado (de acordo com Guy Meadows, da The Sleep Scholl em Londres). O álcool torna-se um estimulante quando o corpo quebra; liberta açúcar e outras substâncias que o fazem acordar mais vezes. Impede-o também de chegar ao sono em modo REM (rapid eye movement), que se traduz na parte mais importante do nosso sono, porque é onde o nosso cérebro processa a memória e o nosso estado de humor.
Não ter REM suficiente durante a noite significa acordar, não só mais cansado, como mal-humorado e esquecido.
Noites mal dormidas
Beber de forma moderada pode também levar o seu cérebro a 'esquecer' como se dorme de forma eficiente. De tal modo que o corpo acaba por perder a parte do sono restaurador, mesmo nas noites em que não bebe. Alguns estudos indicam que 60% dos alcoólicos sofrem de insónias.
Meadows indica que um dos aspetos mais interessantes do estudo é perceber que este padrão de distúrbio de sono se mantém alguns anos após o deixar de beber.
O alcoolismo de longa duração interfere com os neurotransmissores que têm como função acalmar a atividade cerebral. Esta conclusão pode explicar porque é que os indivíduos que bebem de forma moderada não notam diferença quando deixam de beber durante uns dias. No caso dos primeiros, o cérebro tem de reaprender a dormir e para que isso aconteça é necessário deixar de beber durante uns meses para perceber a diferença no sono.
Tolerância ao álcool
Beber um pouco mais do que a conta e não sentir qualquer efeito é um sinal de que esse indivíduo bebe numa base regular. Isto acontece porque se criou uma tolerância aos efeitos a curto prazo que o álcool tem.
O etanol faz-nos sentir bêbedos. Esta parte pura da bebida alcoólica entranha-se na corrente sanguínea e afeta o sistema nervoso central e o cérebro, o que interfere no nosso centro de gravidade e faz com que balbuciemos palavras de forma descoordenada.
O corpo produz enzimas que ajudam a remover o álcool do sistema. Mas se beber é uma prática regular, o organismo vai ter de produzir quantidades mais elevadas dessas enzimas ao mesmo tempo que 'aprende' a trabalhar de forma mais árdua para que possa expulsar o álcool mais rapidamente.
É frequente os indivíduos que bebem acharem que se toleram os efeitos a curto prazo também os toleram a longo prazo. No entanto, a única coisa que 'ganham' é o aumento do risco de danificarem o fígado. Isto porque não é o álcool em si que danifica as células do fígado, mas sim as toxinas que estão presentes e não são processadas.
Necessita de um sorriso novo
O fato de os dentes aparentarem estar em condições quando sorri ao espelho não significa que o consumo do álcool não esteja a deixar as suas marcas.
Por exemplo, as marcas causadas pela ingestão de vinho tinto aparecem na parte interior dos dentes, junto à língua e nas superfícies entre os dentes. O vinho branco e a cerveja levam a uma maior erosão dentária. Sinais claros de que algo está errado é o aparecimento da cor amarelada e uma maior sensibilidade.
'Bronze saudável'
Se alguém lhe disser que está com bom aspeto e perguntar se esteve de férias e a resposta for negativa, então pode querer dizer que está com problemas de fígado que se traduzem numa alteração da cor de pele.
Ao longo do tempo o álcool danifica as células do fígado e deixa cicatrizes no tecido enquanto este tenta reparar-se a ele próprio. Estas cicatrizes significam que o fígado deixou de conseguir desempenhar o seu trabalho nas melhores condições, não conseguindo filtrar as toxinas e os desperdícios que se encontram no sangue.
É aconselhável verificar se o branco dos dentes está a ficar amarelado. Geralmente é um sinal que surge nos primeiros estádios das doenças de fígado.
Levar duas garrafas de vinho para a festa
Não é segredo que o álcool é como qualquer outra droga e torna o corpo dependente ao mesmo tempo que constrói uma tolerância própria. Um sinal de que a sua dependência está a aumentar inclui levar duas ou mais garrafas de vinho para uma festa; ou usar copos grandes e beber muito mais do que o recomendado (em média 3-4 copos por homem, 2-3 copos por mulher).
Eu não conheço nenhum excesso benéfico ao nosso corpo e alguns deles costumam causar danos ainda piores, como é o caso do álcool. Lembro-me claramente de uma frase do Médico e Físico Paracelso, a qual escutei inúmeras vezes durante minha graduação em Fisioterapia e nos meus estudos em Medicina Tradicional Chinesa: "A diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem". Então caros e prezados leitores não abusem e cuidado com os excessos.
Fonte: Visão
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