Pelas sinuosas estradas do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, cruzam nesta época do ano picapes com alguns dos mais renomados pesquisadores e consultores do mundo em cultivo de uva. Italianos, portugueses, chilenos e brasileiros cumprem uma jornada em vinícolas e seus parreirais, avaliando a qualidade de solo e brotos neste início de safra e indicando quais uvas darão os melhores vinhos.
Sotaques estrangeiros também ecoam nas cavas. Americanos e japoneses percorrem os gélidos corredores onde as garrafas repousam para selecionar alguns exemplares e levarem a seu país, para quem sabe fechar um contrato comercial nas semanas seguintes. Há ainda os críticos e jornalistas estrangeiros, que às dezenas degustam amostras das safras mais recentes para dizer aos seus leitores o que esperar do vinho gaúcho produzido em 2013. O mundo está curioso.
Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul vem ganhando reputação no seletíssimo mundo do vinho fino, feito com uvas especiais. Com o auxílio de especialistas, renovação de equipamentos e aposta em ofensivas comerciais, as vinícolas conseguem, passo a passo, colocar o vinho no mesmo hall da fama alçado pelos espumantes no início dos anos 2000.
— No final dos anos 90, as vinícolas passaram e substituir os parreirais de uvas comuns por uvas para vinhos finos. Foi um processo lento, exigiu altos investimentos, mas que agora atrai a atenção do mundo — explica Juarez Valduga, diretor da Casa Valduga e presidente da Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
Em 2013, os vinhos e espumantes brasileiros já colecionam 80 prêmios internacionais. A grande maioria foi vencida pelos borbulhantes, mas os vinhos despontaram em algumas das principais competições, como o Concurso Mondial du Merlot, na Suíça, e o San Francisco International Wine Competition, nos Estados Unidos.
As medalhas chamaram a atenção da imprensa internacional. Nas últimas semanas, críticos e jornalistas publicaram reportagens sobre o terroir brasileiro. Veículos como o Le Monde, principal diário da França, e a Revista Decanter, mais importante do mundo da enologia, elogiaram a variedade merlot do Rio Grande do Sul, descrevendo-a como à altura dos melhores vinhos chilenos ou argentinos, cuja fama internacional é conhecida. O crítico Steven Spurrier, celebrizado no filme O Julgamento de Paris, disse em artigo que o vinho brasileiro é leve e afável a paladares de jovens.
— Muitos dos vinhos do Rio Grande do Sul já alcançaram a qualidade dos europeus. Nos últimos anos, foram-se definindo as melhores uvas para cada tipo de solo e aprimorados os processos de fermentação e amadurecimento. Esse reconhecimento não é gratuito — afirma o sommelier e consultor italiano Rabachino Roberto, um dos participantes da Avaliação Nacional de Vinhos, que ocorreu no final de semana passado em Bento Gonçalves.
O ganho de reputação fermenta a venda das vinícolas. No primeiro semestre deste ano, as exportações subiram 1,7% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). No mercado interno, a participação do vinho nacional fino cresceu suavemente sobre o importado, passando de 22,4% para 22,7%.
— Com a proximidade da Copa e das Olimpíadas, o mundo está interessado em conhecer os produtos brasileiros, é uma janela importante para o vinho. As exportações podem crescer 30% ao ano até 2016 — projeta Andreia Gentilini Milan, diretora de promoção comercial do Ibravin.
Todo o marketing, entretanto, não conseguiria despertar os paladares mais exigentes não fossem pelas inovações trazidas pelas vinícolas nos últimos 15 anos. Após perder mercado para chilenos e argentinos desde os anos 70, os produtores brasileiros, com apoio de instituições como a Embrapa, reagiram com pesquisa de solo e novas técnicas de cultivo. Descobriram, por exemplo, a propensão das terras gaúchas a dar bons merlot, o que possibilitou escapar da concorrência dos cabernet sauvignon chilenos e os malbec argentinos. Também melhoraram as condições de cultivo de uvas como chardonnay, base para espumantes que hoje são comparados aos champanhe franceses.
— Tivemos uma nova geração de enólogos que, após estudarem no exterior, trouxeram ao Brasil novas variedades de uvas e visão de mercado, somando ao conhecimento dos mais experiente. Hoje há expansão do cultivo para novas regiões e vinhos de qualidade indiscutível — analisa Christian Bernardi, diretor da vinícola Gran Legado e conselheiro da Associação Brasileira de Enólogos.
Por: Erik Farina
Fotos: Bruno Alencastro
Fonte: Zero Hora
Por: Erik Farina
Fotos: Bruno Alencastro
Fonte: Zero Hora
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