quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Nashik: o vale do vinho na Índia

Na Índia, onde a bebida alcoólica preferida é o uísque e há abstêmios aos montes, a cultura do vinho é praticamente inexistente. Porém, parece que Nashik (também conhecida como Nasik), área pitoresca de colinas verdejantes a 2,5 horas de Mumbai, finalmente está mudando essa percepção. Ali, mais de meia dúzia de vinícolas com salões de degustação refinados — e, em alguns casos, até restaurantes e acomodações — foram inauguradas nos últimos anos e estão transformando esse vale fértil em um destino para os enófilos e formadores de opinião locais.
 
 
Há séculos produtores cultivam uvas de alta qualidade e algumas outras frutas nas centenas de hectares da região, mas empreendedores locais, e também de Mumbai, perceberam que o clima ensolarado e moderado e a escassez de chuva — exceto pelo período das monções em maio e junho — fazem dela um ambiente ideal para a produção vinícola. Atualmente mais de 25 variedades de uvas crescem ali, incluindo chardonnay, malbec, viognier e sauvignon blanc.
 
O movimento começou com a Sula Vineyards, há mais de uma década. Rajeev Samant, nativo de Mumbai que trabalhou no grupo financeiro da Oracle, no Vale do Silício, voltou para casa em 1993 com planos de cultivar manga no terreno da família, mas percebeu que os vinhedos poderiam ser bem mais lucrativos.
 
"As uvas eram excelentes e como vivi perto da produção vinícola, no Vale do Napa, percebi que a oportunidade era imperdível", conta ele. E contratou um vinicultor da Califórnia. Assim, o vinho Sula surgiu em 2000, com um chenin blanc e sauvignon blanc.
 
Conforme outras vinícolas foram surgindo, ela se expandiu para atrair viajantes em busca de entretenimento, adicionando um salão de degustação de 185 metros quadrados, um anfiteatro para shows e espetáculos de dez mil lugares e um restaurante italiano. O Beyond Vineyard Resort, com 32 quartos e uma piscina infinita, veio em 2010 e, no início deste ano, Samant abriu o Vino Spa, que oferece tratamentos como peeling com sementes de uva.
 
O resultado foi que o número de visitantes chegou a 150 mil no ano passado, comparado aos pouco menos de cinco mil quando foi inaugurada — sem contar que alguns dos restaurantes mais refinados do mundo vendem o vinho Sula, incluindo o Daniel de Nova York.
 
Perto dela fica a York, que Kailash Gurnani, de 25 anos, abriu com o irmão Ravi, de 29. A vinícola tem um salão de degustação bem iluminado, além de um restaurante contemporâneo e popular que serve pratos do norte da Índia. Os garçons sugerem combinações de vinho. "Queremos que o público venha não só para saborear o nosso vinho, mas também para aproveitar e relaxar", explica Kailash.
 
Uma das novidades é a Grover Zampa Vineyards, criada a partir de duas vinícolas — a Grover, da região produtora perto de Bangalore, e Zampa, de Nashik — e da amizade entre os dois fundadores, Kapil Grover e Ravi Jain. Eles estão se estendendo além do espaçoso salão de degustação com a construção de um hotel de luxo.
 
A Vallonné Vineyards também pensou em acomodações — e foi assim que o fundador, Shailendra Pai, inaugurou uma villa de três quartos em novembro, com planos para erguer vinte chalés até o início de 2015.
 
Embora as uvas francesas sejam a norma em Nashik, a Reveilo se destaca por seus varietais italianos, como a sangiovese e a nero d'avola. A vinícola foi aberta por Yatin Patil, nativo da área, e sua mulher, Kiran; ambos desistiram de empregos bem remunerados na área financeira para cultivar as terras da família.
 
O casal contratou um vinicultor da região de Friuli, na Itália, e a sede hoje conta com uma varanda onde Yatin e seus funcionários oferecem amostras aos clientes, combinando-os com iguarias como biscoitinhos caseiros e espetinhos de frango.
 
Pallavi Shah, especialista em viagens para a Índia que trabalha em Nova York, diz que, uma vez que a cultura do vinho na Índia é apreciada apenas pelas classes mais abastadas, as vinícolas de Nashik devem seguir o padrão de uma clientela para lá de exigente e conhecedora.
 
Por Shivani Cora
Fonte: The New York Times

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