sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Para fechar novembro com chave de ouro

Novembro foi o mês com maior número de vizualizações de páginas desde a criação do blog: mais de 5.500 até o momento, para se ter idéia esse número é quase metade das vizualizações alcançadas no primeiro ano do blog.
 
Além dessa marca expressiva para um blog sem patrocínio consiguimos mais uma vez colocar um de nossos posts entre os mais populares do Enoblogs, na lista publicada ontem. A nossa postagem ficou em quinto lugar e trata do primeiro vinho branco do Brasil produzido a partir  de uma uva tinta: O primeiro vinho invisível do Brasil. Confira a lista completa na imagem abaixo.
 
Ficamos cada vez mais agradecidos pelo reconhecimento que o blog tem alcançado ao longo desses 21 meses de vida.
 
Bons vinhos a todos!
 
 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Uma casa para nenhum enófilo botar defeito

Vende-se casa sob medida para amantes de vinho

Um casal de produtores do Vale McLaren, no sul da Austrália, está vendendo uma casa feita sob medida para amantes de vinho. A casa possui uma sala de degustação, uma adega e alguns acres de vinhedos na parte de trás.
 
"Nós colocamos algumas prateleiras de Champagne na nossa adega. Quando recebíamos amigos, nos sentávamos e ficávamos bebendo lá. Temos uma mesa especial", disse o Sr. Stillwell, proprietário da casa.
 
Além da sala de degustação e da adega, a casa também tem quatro quartos que oferecem vista panorâmica para os vinhedos na Willunga Hills. O preço varia de 570 mil a 605 mil euros.
 
Fonte: Revista Adega

Chega o primeiro vinho invisível do Brasil

Por Orestes de Andrade Jr.
De Dom Pedrito (RS)

Um vinho invisível. Este é o novo lançamento da Dunamis Vinhos e Vinhedos, de Dom Pedrito , na Campanha Gaúcha, fronteira com o Uruguai, apresentado na quarta-feira (21/11), em São Paulo.
 
A novidade – o primeiro vinho Merlot Branco do Brasil – tem a marca da inovação que caracteriza a Dunamis, uma empresa cuja missão declarada é “descomplicar o consumo de vinho”. Tanto que, no ano passado, a Dunamis lançou o “vinho democrático”, uma eleição que envolveu mais de 100 pessoas de cinco cidades brasileiras (Dom Pedrito, Caxias do Sul, Porto Alegre, São Paulo e Recife).

Na prática, foram os consumidores que escolheram as uvas e suas quantidades que fizeram parte dos rótulos Dunamis Tom (um rosé 100% Cabernet Sauvignon) e Dunamis Cor (Merlot, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon). Este ano, a Dunamis apresentou os seus primeiros rótulos varietais “Shall We Dance?” (das variedades Pinot Grigio, Merlot e Cabernet Franc), os vinhos que convidam para dançar, lançado com trilha sonora própria.

Com produção inédita no Brasil, o Merlot Branco começou a ser elaborado na região do Languedoc, na França. A intenção era conseguir um produto para competir com o Zinfandel Branco, vindo da Califórnia. Embora seja inusitada, a elaboração de um vinho branco com uma uva tinta é simples: basta não utilizar a casca tinta da uva, vinificando apenas a polpa branca.

Há várias maneiras de vinificar em branco uma uva tinta. A mais popular talvez seja a separação da casca depois de prensar a uva no tanque de fermentação (tecnicamente, logo no início da fermentação as cascas ficam suspensas e se diz que o “o chapéu subiu”, possibilitando a separação do líquido). No caso da Dunamis foi diferente. O especialista em vitivinicultura e consultor da Dunamis, Emílio Kunz, explica que a uva Merlot sofreu uma prensagem leve, sem desengace, para extração do suco, chamado de mosto-flor.

Os cachos não foram retirados, a exemplo do que se faz na região de Champagne, na França, porque auxiliam na drenagem do suco. Assim, a tinta da casca da uva Merlot não se mistura ao mosto, evitando a transferência de cor. O mosto branco foi então fermentado a baixas temperaturas para garantir maior frescor e aromaticidade. “Desse modo não precisamos usar carvão ativado, obtendo naturalmente uma cor mais clara, preservando os precursores dos aromas”, argumenta.

A elaboração de um vinho branco com uva tinta (“blanc de noirs”) traz algum risco. É comum encontrar na Europa vinhos à base de uvas tintas com um tom rosa claro (“blush”). O da Dunamis, não, é branco, invisível. Emílio Kunz observa que após a vinificação em branco, é preciso um cuidado redobrado, porque o processo não evita a presença de uma pequena quantidade de polifenóis e flavonóides – extraídos da casca da uva tinta – no vinho branco, que, reduzidos, são incolores.

Mas como ocorre nas frutas (uva, maçã, entre outras), com a maturação existe um ganho de cor. “A oxidação gradativa leva os vinhos brancos com uvas tintas a ficarem rosés com o tempo”, observa Emílio Kunz. “É o mesmo processo que faz vinhos brancos ganharem uma cor amarela mais evidente com o passar dos anos”, acrescenta. Em Champagne, onde a Pinot Noir é utilizada amplamente, a segunda fermentação resolve esta questão.

“Tivemos de simular uma segunda fermentação para retirar seletivamente esses componentes sem alterar a estrutura e o sabor do vinho”, explica. A técnica usada é mantida em sigilo pelo consultor, engenheiro químico por formação.

Outra singularidade deste novo lançamento da Dunamis é que a uva Merlot foi preparada desde o vinhedo para se tornar um vinho branco. Cultivada no vinhedo Três Cerros, de solo argilo-arenoso, em Dom Pedrito (RS), as uvas Merlot foram colhidas manualmente na safra de 2012 depois de uma maturação especial para vinhos brancos, ou seja, a condução foi feita de modo que as uvas tivessem uma acidez mais alta. O resultado é um vinho fresco e aromático, com 12% de álcool, seguindo a filosofia de álcool moderado dos rótulos da Dunamis.

Brasilidade

O Dunamis Merlot Branco complementa a coleção “Shall We Dance?”. “O frescor, a leveza e a brasilidade são os principais elementos desta linha”, define o diretor-executivo da empresa Júlio César Kunz. Segundo ele, os vinhos “Shall We Dance?” buscam a melhor expressão da natureza nos terroirs da Dunamis, da cultura colorida do Brasil nos seus rótulos e a alegria do brasileiro no jeito descontraído de consumo. Além da tradicional Merlot, a coleção conta com as variedades Cabernet Franc e Pinot Grigio, pouco cultivadas em solo brasileiro.

Júlio Kunz revela que a opção por vinificar em branco uma variedade tinta (Merlot) segue a postura de oferecer oportunidades de descobertas ao público. “Também procuramos uma expressão completamente diferente desta variedade, acompanhando a balada da coleção “Shall We Dance?”, mostrando a todos que ainda há muito a ser descoberto no mundo do vinho, especialmente no Brasil”, afirma.

Agora, o consumidor pode comparar os dois vinhos Dunamis “Shall We Dance?” com a uva Merlot, percebendo as diferenças entre uma vinificação tradicional em tinto e a alternativa, em branco. E o melhor: por um preço convidativo – R$ 39,90.

Fonte: De Vinho

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A personalidade das uvas autóctones

Por Carlos Arruda
 
As uvas nativas de cada região - autóctones - possuem uma história local que não pode ser descartada. A riqueza do mundo do vinho repousa nessa adaptação das plantas às condições do território e ao aprendizado dos vinicultores ao longo do tempo.
 
No mundo do vinho podemos citar duas grandes realidades, separadas pelo tempo e pelas tradições.
 
A primeira é a realidade do território: no passado, há muitos séculos, cada região usava as variedades de uvas cada vez mais adaptadas ao local, perpetuando uma tradição e um “modo de fazer” típicos, que envolvia melhor resposta ao clima, melhor produtividade e qualidade. Esta situação viria a ser consolidada (e protegida) séculos depois na forma de Denominações de Origem, as DOC.
 
A outra realidade é exatamente oposta: uvas de sucesso em algumas regiões começaram a ser levadas para outras por vinicultores criativos e desejosos de melhores resultados, numa espécie de “migração” étnica de variedades. Os maiores exemplos desse movimento são as uvas francesas de grande sucesso como a tinta Cabernet Sauvignon e a branca Chardonnay, que se tornaram internacionais e mantiveram o sucesso e a qualidade de seus vinhos em todo o mundo.
 
Um mundo perfeito? Talvez, mas com ressalvas. Essas uvas, por exemplo, produziram vinhos com personalidades ligeiramente (ou mais que isso) diferentes de suas regiões nativas, reforçando o conceito de adaptação da planta ao clima e às características do solo local, conjunto a que damos o nome de “terroir”. As videiras são plantas intimamente ligadas ao terreno por suas profundas raízes, funcionando como “tradutoras” de suas características sob o manto do clima reinante, seu “sotaque”.
 
Aproveitando essa analogia, podemos dizer que os vinhos Cabernet Sauvignon do Chile são tão diferentes de seus ascendentes franceses de Bordeaux (pátria dessa notável uva) que falam outra língua (ou dialeto), tão forte a mudança de ambiente.
 
Hoje o mundo do vinho volta às suas origens, com consumidores de todo o mundo buscando conhecer e apreciar as características de vinhos produzidos com as uvas nativas de suas regiões, também chamadas de “autóctones”. Esse movimento resgata a personalidade original de uvas plenamente adaptadas a seus “terroirs” e, portanto, mais capazes de traduzir suas características. Vejamos alguns exemplos:
 
Portugal, um país pequeno, tem grande riqueza de uvas autóctones e faz disso sua principal bandeira no mundo do vinho. Com nomes divertidos, as uvas nativas produzem vinhos de forte caráter em cada região: Baga, na Bairrada, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca, no Douro, Aragonez e Alfrocheiro no Alentejo, Alvarinho nos Vinhos Verdes, e muitos outros nomes como Rabigato, Tinta Cão, Maria Gomes, Roupeiro...
 
A Itália, terra onde nasceu a diversidade do vinho, milênios atrás, também cultiva suas particularidades típicas como a notável Sangiovese na Toscana, Nebbiolo, Barbera e Dolcetto no Piemonte, Corvina, Molinara, Veronese e Prosecco no Veneto, Aglianico, Greco, Fiano e Falanghina na Campania, Nero d’Avola na Sicilia...
 
Na França podemos citar a Cabernet Franc e a Sauvignon Blanc no Val de Loire, Chardonnay e Pinot Noir na Borgonha, Gewürztraminer e Tocai na Alsácia, Malbec em Cahors, Tannat no Madiran, Petit Manseng e Gros Manseng no Jurançon, Syrah, Grenache e Mourvèdre no Rhône e por aí vai.
 
Na Grécia os nomes são tão complicados quanto os das ilhas, mas Xinomavro, Assyrtiko e Agiorgitiko produzem no calor do Mediterrâneo vinhos de grande personalidade.
 
Na Espanha, apenas para começar podemos citar a Tempranillo, que curiosamente troca de nome entre regiões, podendo se chamar Tinto Fino, Tinta de Toro, Ull de Liebre... Os tradicionais Cavas, espumantes de grande qualidade, são produzidos com as variedades Macabeo, Parelleda e Xarel-lo.
 
Esta lista poderia crescer muito, mas prefiro convidar todos a descobrir e experimentar vinhos de uvas autóctones dos diversos países produtores, pois este é o melhor caminho para a maravilhosa diversidade de produtos disponíveis para que nós, enófilos, possamos trazer para nossa mesa e nossas reuniões um pouco da história, da cultura e dos sabores de todo o mundo.
 
Novos vinhos, novas emoções...
 
Fonte: Academia do Vinho

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Governo Brasileiro regulariza classificação do vinho colonial

O governo brasileiro irá regulamentar a produção e classificação dos vinhos fabricados por produtores familiares e permitirá que o rótulo receba a denominação de Vinho Colonial. A medida pretende diminuir o alto índice de informalidade dos agricultores familiares e uniformizar o procedimento de produção.
 
Com a ação, o Ministério agiliza a regulamentação, uma vez que a produção e a venda desses produtos já ocorrem. "O que faremos é dar reconhecimento ao produtor, ou seja, traremos a legalidade para os estabelecimentos que hoje estão informais. O resultado é um produto mais competitivo para a comercialização, observando as condições de higiene e sanitárias e, com isso, a segurança alimentar no processamento de alimentos e bebidas", destacou o ministro Mendes Ribeiro Filho.
 
Os produtores, por sua vez, terão de seguir algumas exigências, como a que estipula que o Vinho Colonial seja elaborado com no mínimo 70% de uva produzida na propriedade da família de origem, numa quantidade de até 20 mil litros ao ano pelo produtor. A comercialização do produto também deverá obedecer a regras específicas, como por exemplo, a que não permite a venda para estabelecimentos comerciais, ou seja, a comercialização será diretamente ao consumidor final.
 
Fontes: Revista Adega e Google Imagens

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sabor de Calcário?

Como os diferentes tipos de solo influenciam nos vinhos e seus sabores?

Por Alexandre Lalas

Imagine um solo pobre, em que a primeira camada fosse de pedra. Poderia ser pedregulho, ardósia, cascalho, permitindo um reforço térmico e, por conseguinte, uma maturação mais segura da uva. Então, viria uma segunda camada, esta de areia, que serviria para drenar a água. Na sequência, argila, para conservar a umidade no subsolo, forçando as raízes a irem mais fundo atrás de nutrientes e, dessa forma, cobrindo camadas de composição mineral diferentes. Em tese, seria o solo perfeito para a viticultura. Mas seria esse fator - na verdade encontrado em diversos lugares pelo mundo - o suficiente para a produção de vinhos de alta qualidade no local?
 
Sozinho, o solo não resolve. Embora seja indubitavelmente a base de um vinho de qualidade, como em um trabalho em equipe, outros fatores são necessários para um bom resultado. O clima, por exemplo, é um protagonista tão importante quanto o solo. A mão do homem, outro. Esses três elementos, juntos, formam uma espécie de triângulo que ajudam a explicar o mágico conceito de terroir. E são eles, combinados, que definem que vinho nascerá de cada parcela de terra.
 
Papel do solo
 
Por definição, o solo é a camada mais superficial da crosta. É composto por sais minerais, seres vivos e rochas em decomposição. Serve de suporte às plantas e garante a nutrição delas. Nas vinhas, além da nutrição e da sustentação, o solo desempenha um papel secundário, mas de extrema importância: absorver luz e calor do sol, para transferir em forma de energia à videira quando ela está na sombra. Mas, se é o responsável pela vida da vinha, também pode ser o vilão, servindo de moradia para pragas e afins. Embora o tipo de solo não determine a qualidade do vinho, o papel que ele exerce é fundamental.
 
Para Álvaro de Castro, o solo, embora fator de essencial importância, não é determinante

Alguns minerais são vitais para a saúde das vinhas. E todo solo que se preze apresenta esses componentes. Entre eles estão o cálcio, que ajuda a neutralizar os níveis de pH do solo; o ferro, essencial para a fotossíntese; o magnésio, que ajuda na clorofila; o potássio, que auxilia no metabolismo da videira; além de boro e manganês. Outro elemento de extrema importância é o nitrogênio, que colabora na síntese da proteína.
 
Água
 
Mas até onde vai a influência do solo é algo que nem mesmo enólogos muito experientes conseguem explicar. Para Álvaro Castro, produtor e enólogo da Quinta da Pellada, no Dão, em Portugal, o solo contribui principalmente com a água e a mineralidade. Em conjunto com o clima, também ajuda a definir a acidez, a qualidade dos taninos, a maturação fenólica e o álcool do vinho. Mesmo assim, para ele, o solo, embora fator de essencial importância, não é determinante e o conceito de um "terroir único", tão defendido pelos franceses, embora tenha alguma lógica, não é totalmente compartilhado pelo produtor.
 
"Até acho que as propriedades e os solos têm características únicas que não devem ser copiadas pelas outras regiões que têm menos sucesso. Por outro lado, enerva-me o chauvinismo pouco científico de que as principais propriedades que o solo confere às plantas não sejam reproduzíveis ano após ano. O que quero dizer com isso é: uma vez conhecendo cada parcela da minha propriedade e tendo-me apercebido das condições naturais que originaram as colheitas de exceção, devo procurar proporcioná-las ao solo para que essas colheitas excepcionais possam se repetir", acredita Castro.
 
"Uma das principais funções do solo é a disponibilização de água às plantas nas quantidades exatas que promovem uma maturação regular, longa, concentrada e elegante. Em minha opinião, deve-se praticar uma viticultura que a favoreça, quer aplicando compostos orgânicos que a disponibilizam de uma maneira perfeita, quer, em última análise, através da rega. A grande dificuldade advém da mudança das características do solo dentro de cada parcela. Em um lugar podem ser necessários cinco litros, mas 50 metros à frente é preciso de o dobro ou o triplo de água", explica. "O que é verdade para a água de uma maneira mais evidente, é também verdade para outros microelementos que são necessários ao desenvolvimento das videiras", conclui.
 
Sofrimento
 
Embora a importância da água seja indiscutível, outro produtor e enólogo português, António Lopes Ribeiro, da Casa de Mouraz, faz questão de lembrar que é do sofrimento que nascem os grandes vinhos. "'A vinha, para produzir bom vinho, tem de sofrer'. Este antigo ditado português, transmitido de pais para filhos no meio vitivinícola, faz sentido hoje e em qualquer lugar. Solos muito ricos darão alimento em excesso, criando videiras vigorosas, muito produtivas, mas dando origem a vinhos medíocres ou vulgares. Serão solos, com certeza, melhores para cereais como o milho ou vegetais", explica.
 
"Por isso os melhores viticultores sempre procuraram as encostas, os terrenos mais pobres, por vezes pedregosos, plantando a vinha em terraços e ladeiras. Sabiam que aí a vinha teria de 'sofrer', sendo obrigada a trabalhar, a procurar a sobrevivência na rocha-mãe. Aí as produções seriam menores, mas a qualidade das uvas e do vinho seria sempre maior", acredita Ribeiro.
 
"Não é por acaso que um verdadeiro vinho do Dão, criado em solos pobres de granito, apresenta sempre uma profunda e fresca mineralidade, ou um Douro, conquistado à montanha de xisto, será sempre forte e robusto, um hino à sobrevivência num mar de pedra, diferente e inimitável. Desde que o solo seja adequado à cultura da vinha e do vinho de qualidade, todo ele irá marcar de uma forma ou de outra o vinho resultante das uvas aí criadas. O importante é manter esse solo vivo e capaz de alimentar corretamente a videira, transmitir-lhe a sua essência. Por isso, é fundamental favorecer a existência de um coberto vegetal, manter a biodiversidade, a coexistência de plantas diversas, evitando o solo nu, a monocultura de vinha. Caso contrário, estaremos no domínio da hidroponia e esta jamais dará origem a vinhos singulares, autênticos e de terroir", define o produtor.
 
Essência

Adepto da viticultura biodinâmica, Ribeiro explica até que ponto a terra influencia no resultado final de um vinho. "O solo é a base de qualquer bom vinho. Quem trabalha em viticultura orgânica e biodinâmica sabe que o solo é o elemento fundamental no processo de criação de um vinho. Por isso, vários dos preparados biodinâmicos são aplicados ao solo, para melhorar, tornar mais rico, mais saudável, mais vivo e, obviamente, traduzir esse esforço, mais tarde, em melhores uvas, em melhores vinhos", começa.
 
"É nas camadas mais profundas do solo, na rocha- mãe, que reside a especificidade de um lugar, de uma parcela de vinha. Será essa mesma rocha-mãe a marcar as características do vinho produzido a partir das uvas colhidas nessa vinha. Por isso, em viticultura orgânica e biodinâmica, procura-se ao máximo preservar os solos, procurando que as videiras tenham um enraizamento o mais profundo possível. Para isso, mantemos, por norma, um coberto vegetal na vinha e evitamos ao máximo a terra nua (o solo nu). Essa cobertura verde vai evitar a erosão (a perda de solo), vai produzir matéria orgânica e, sobretudo, ao criar alguma competição com a videira, vai obrigar a cepa a trabalhar, a estender as raízes em profundidade, procurando alimento e água na rocha-mãe. Por isso, também se procura evitar, no nosso tipo de viticultura, a irrigação, utilizando-a apenas em situações excepcionais e em regiões áridas. Por quê? Porque uma vinha irrigada e, como é comum na viticultura convencional, adubada através da água terá sempre uma raiz superficial. Será uma vinha preguiçosa. Se tem o alimento e a água à superfície, não necessita de descer à rocha-mãe. Ela até poderá dar muitas uvas e estas, através da tecnologia enológica, poderão dar origem a vinhos bastante razoáveis, todavia, jamais produzirão vinhos de terroir, autênticos e personalizados. Algo que só um enraizamento profundo, num solo saudável poderá dar", ensina o enólogo.
 
"As mesmas variedades plantadas em solos diferentes, por vezes em microparcelas de menos de um hectare, como na região do Dão, vinificadas da mesma forma, darão sempre origem a vinhos diferentes. O solo é um elemento fundamental na identidade de um vinho", completa Ribeiro.
 
Os tipos de solo
 
Entre os principais tipos de solo cultivados com vinhas estão aluvial, calcário, granítico, arenoso, vulcânico, xistoso, argiloso, pedregoso, cascalho, sílex e terra rossa. Cada um deles empresta uma determinada característica aos vinhos. Por exemplo, um solo calcário tem níveis elevados de cálcio e carbonato de magnésio. Em geral, proporciona boa retenção de água e drenagem. No entanto, por tratar-se de um solo frio, pode retardar o amadurecimento da uva e mesmo produzir vinhos mais ácido.
 
É importante ressaltar que muito além das características físicas e químicas do solo, e mesmo dos humores do clima e dos desejos da natureza, a intervenção humana ganha cada vez mais espaço na produção de vinhos de qualidade. Mesmo em lugares onde era improvável a existência de vinhas, já há quem reclame por uma indicação de procedência. Até países como Costa Rica, Quênia e Etiópia têm vinhos para chamar de seus. As técnicas de irrigação, o aprimoramento dos porta-enxertos, seleções clonais de melhor qualidade e uma série de novas técnicas de viticultura têm permitido levar as vinhas onde elas jamais haviam sonhado em estar. Independentemente do solo em que elas estejam sustentadas.
 
É importante ressaltar que muito além das características físicas e químicas do solo, e mesmo dos humores do clima e dos desejos da natureza, a intervenção humana ganha cada vez mais espaço na produção de vinhos de qualidade
 
Mesmo assim, no tocante aos solos, há uma combinação de fatores importantes para a produção de uvas que gerem bons vinhos. O solo deve ser profundo, ou estar baseado sobre um extrato de rocha-mãe podre, que permita o enraizamento e um abastecimento moderado de água; deve ter uma textura fina, de preferência com abundância de pedras; prover a planta de matéria orgânica o suficiente para satisfazer suas necessidades, mas que não seja um solo rico e dê apenas os minerais suficientes para um crescimento não muito vigoroso da videira.
 
Pelos Solos do Mundo
 
COONAWARRA, AUSTRÁLIA
 
A festejada Terra Rossa, de Coonawarra, na Austrália, é basicamente uma combinação única de eventos. A área - que já foi um litoral - tem solo calcário sobre a parte superior de uma base de arenito. O calcário secou ao longo de milênios e a desintegração do solo quando começou a erodir provocou depósitos de ferro em seu interior, gerando oxidação e criando as tonalidades de laranja e vermelho na terra, rica em nutrientes e minerais, com boa drenagem. Um solo que descobriu-se perfeito para a Cabernet Sauvignon.
 
CHÂTEAUNEUF-DU-PAPE, FRANÇA

Imagine o fundo de um aquário, com aquelas rochas arredondadas, lisas. Pois esse é o cenário mais comumente encontrado nas vinhas em Châteauneuf-du-Pape. Essas pedrinhas ovais chegaram ao vale do Rhône após enchentes seculares ocorridas na última Idade do Gelo. E se encarregam de reter o calor do sol para depois, durante a noite, transferir a energia às vinhas. O resultado são vinhos ricos, encorpados, quase picantes. E com generosa quantidade de álcool.
 
MOSEL, ALEMANHA
 
A ardósia abunda no solo de Mosel, absorve o calor do sol e reflete às vinhas, garantindo uma melhor maturação das uvas. Além disso, é altamente porosa. De quebra, garante uma mineralidade que só faz bem à casta rainha da região: a Riesling. E se há uma uva no mundo que reflete com precisão o que o solo oferece, essa cepa é a Riesling. Não por acaso, o solo de Mosel é considerado um dos mais importantes na viticultura mundial.
 
DOURO, PORTUGAL
 
O vinho que nasce do Douro é um sobrevivente. A região é rica em granito. Mas o maciço de xisto dividido em camadas verticais por baixo da superfície permite que a umidade se infiltre no solo, e ainda oferece espaço para que as raízes se infiltrem mais profundamente em busca de nutrientes. O resultado é um vinho robusto, encorpado, forte. Trocando em miúdos, um sobrevivente.
 
BORGONHA, CHAMPANHE E VALE DO LOIRE, FRANÇA
 
Uma bacia de pedra calcária de marga se alonga por essas três regiões francesas: o solo kimmeridgian. É certo que cada pedaço de terra tem a sua particularidade, o que ajuda a tornar vinhos vizinhos tão distintos, diferentes. Mas a base está toda lá. Um solo argilo-calcário, repleto de quartzo, zircão e de nutrientes gerados dos fósseis de moluscos de eras passadas. E é na raiz desse solo que mora muito da explicação da qualidade, da fineza e da singularidade de cada um dos (bons) vinhos dessas regiões.

PRIORATO, ESPANHA

Uma mistura de ardósia escura e quartzito, rochosa e altamente porosa, com uma enorme capacidade de drenagem e que permite às raízes cavar até 25 metros na rocha atrás de bolsões de água e de nutrientes. Esse é o famoso llicorella, solo dominante no Priorato, e uma das razões para a fama dos vinhos da região.


MENDOZA, ARGENTINA

Concentração é o sobrenome do vinho argentino. E tal característica é reflexo direto da combinação solo/geografia. As altitudes elevadas, somadas à mistura de areia, granito, xisto e depósitos aluviais transformam o solo de Mendoza em um ambiente único para crescimento das uvas. A ajuda do clima, com muito sol durante o dia, e temperaturas baixas durante a noite, completam o quadro e geram vinhos ricos em resveratrol.
 
Fonte: Revista Adega

O vinho de Tutacâmon

Muito da história da humanidade (e do vinho) foi descoberta após arqueólogos encontrarem a tumba intacta de Tutancâmon

Por Arnaldo Grizzo

Se você está familiarizado com a história do Egito antigo, certamente sabe que a descoberta, em 1922, da tumba de Tutancâmon, 11º faraó da XVIII Dinastia do Novo Império, abriu diversas portas para os cientistas estudarem inúmeros aspectos da história egípcia, desvendando alguns mistérios e trazendo à tona detalhes da vida na época. Um desses detalhes foi a vitivinicultura dos primórdios da humanidade.
 
Em 4 de novembro de 1922, o arqueólogo britânico Howard Carter encontrou o túmulo desse jovem faraó, que assumiu o trono com 12 anos e reinou por apenas nove, morrendo precocemente – acredita-se, depois de muita pesquisa, que por malária. Essa descoberta foi considerada uma das mais importantes, já que a tumba estava intacta – lembremos que ladrões saquearam os principais sítios arqueológicos egípcios durante séculos a fio para pegar os tesouros dos grandes reis, restando pouquíssimos lugares intocados. Então, mesmo Tutancâmon sendo um rei “modesto”, o que foi encontrado em seu túmulo deu margem para pesquisas que responderam diversas perguntas sobre essa época da humanidade.
 
Algumas das primeiras coisas encontradas na tumba foram vasos e ânforas, que deram testemunho de como a viticultura já era organizada no Egito. Hieróglifos revelam que terras denominadas “pomares de vinhas” eram cultivadas em Fayum (130 km ao sudeste do Cairo) e também no delta do Nilo. Interessante notar que o faraó possuía seu próprio vinhedo, cuja produção era usada nos ritos dos funerais, já que o vinho, além de estar à mesa, também estava no culto aos deuses, e servia apenas ao soberano e seus convivas.
 
Como na Borgonha
 
Se você acha que o fato de cada vinhedo possuir um nome é um coisa dos franceses da Borgonha – que herdaram isso dos romanos –, está enganado. Essa prática vem de muito tempo antes. Assim como os vinhedos borgonheses hoje, os melhores terroirs egípcios recebiam um nome específico. A vinha do faraó Djoser, da III Dinastia do Antigo Império, chamava-se “Seja louvado Hórus que está no limiar dos céus”. Então, tudo sempre era voltado à adoração do deus Osíris (pai de Hórus), que estava ligado à ressurreição e ao julgamento dos mortos. O vinho feito nesse vinhedo recebia o nome de “bebida de Hórus”, que ficava à disposição para a degustação dos faraós mortos, em diversas ânforas, enquanto eles esperavam a nova vida.
 
Estudos também mapearam alguns vinhos egípcios que ficaram famosos como o taniótico, um branco doce untuoso, o Kan-Komet, que era feito para Ramsés III (entre 1198 e 1166 a.C.), e o mareótico, um branco doce e suave apreciado por Cleópatra.
 
Vinhos safrados
 
Mais incrível ainda é ver que as 26 ânforas encontradas com Tutancâmon tinham a indicação do ano da safra, assim como das parcelas dos vinhedos de onde vieram as uvas, do proprietário dos vinhedos e do enólogo. Em dois jarros havia a inscrição: “Quarto ano. Vinho de muito boa qualidade da propriedade de Aton nas margens do rio Ocidental. Enólogo: Ramose”.
 
Depois dessas descobertas, um mistério ainda ficou no ar. Qual a cor do vinho do faraó? Somente em 2004, com novas pesquisas é que se pôde analisar melhor os resquícios e deduziu-se que havia três tipos de vinho: tinto, branco e fortificado. A presença de vinho branco surpreendeu os pesquisadores, que criam que esse tipo só viria surgir muito tempo (cerca de 1.500 anos) depois.
 
A verdade é que a tumba de Tutancâmon não para de ser analisada e quanto mais as pesquisas científicas se desenvolvem, mais mistérios ela revela. O que mais os egípcios ainda vão nos ensinar?
 
Fonte: Revista Adega

Taça coringa por 80 Euros: Uma bagatela...

O crítico de vinho norte-americano James Suckling acaba de lançar, junto com a empresa de cristais franceses Lalique, uma taça de vinhos que nomeou de "100 pontos".
 
Segundo ele, são necessárias de 15 a 20 pessoas trabalhando entre 4 e 5 dias para produzir cada taça, que será vendida por 80 euros. Além disso, a nova taça, de haste fosca, foi produzida para o consumo de todos os tipos de vinho. "Enquanto trabalhava, sempreprovava vinhos nas quatro taças tradicionais da Riedel, o que me fez pensar na possibilidade de uma taça para todos os tipos", explicou ele, que descreve o produto como algo neo-classico tanto em design quanto em estilo.
 
Admitindo que a ideia não é original, o critico já pensa no próximo projeto, que é uma nova taça para champagne. Ele acredita que a tradicional não faz justiça à bebida.
 
Fonte: Revista Adega

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Como são feitas as rolhas

 
Tudo começa na floresta.  A cortiça, matéria prima das rolhas, pode ser coletada a cada nove anos, quando atingem o grau de maturidade ideal. A remoção da cortiça não prejudica a árvore (sombreiro). A maioria das florestas de sombreiro estão em Portugal e na Espanha.
 
 
O ano de colheita é marcado no tronco, então cada árvore não é colhida no tempo errado. A cortiça é um material de grande potencial isolante, e dá aos sombreiros uma chance de sobreviver aos incêndios que de vez em quando acontecem nos verões mediterrâneos.
 
 
Aqui é um close de uma árvore que foi colhida o ano prévio.
 
 
 As pranchas  de cortiça colhidas são armazenadas antes de serem processadas.
 
 
Este é um close de um pedaço de casca. É bastante fino e não será usado para produzir rolha natural de alta qualidade.
 
 
Antes do processamento, as pranchas de cortiça são postas em paletes. Então elas estão prontas para a primeira etapa no processo de produção de rolha: fervura. As imagens a seguir foram registradas em uma fábrica ao sul de Portugal.
 
 
As pranchas são fervidas para amolecer e serem limpas. Há muitos anos estas pranchas eram fervidas em fossos velhos e com pouco água, sendo necesssário uma troca constante desta. Agora, para evitar a contaminação, a água é limpada, filtrada e é enchida regularmente.
 
 
 
As pranchas resultantes são mais planas e fáceis de se tarbalhar.
 
 
 Eis um belo exemplar!
 
 
 Em seguida as pranchas são classificadas e cortadas em pedaços que facilitem o trabalho.
 
 
 
 
É um processo que exige habilidade: se as decisões forem erradas as rolhas não serão suficientemente boas ou serão desperdiçadas.
 
 
 
O que permanece depois que as rolhas foram socadas. Esta cortiça restante pode ser moída até fazer grânulos que então podem ser fundidos para fazer rolha de aglomerado.
 
 
 
As rolhas são classificadas oticamente.

 
 
As rolhas são então classificadas no olho.
 
 
 
Grandes cuidados são tomados para classificar as rolhas de nível superior.
 
 
Estas rolhas custam em torno de um euro cada.

Grand Theatre Pinot Noir 2010

Nem todo vinho que vem de Bordeaux é fantástico, alguns são inclusive decepcionantes, é o caso do Grand Theatre Pinot Noir 2010 degustado no último sábado, adquirido pelo fato de apreciar a casta e por já ter degustado um Bordeaux sauvignon blanc do mesmo produtor que agradou bastante: relembre.
 
O rótulo é produzido pela Univitis que é  um dos principais grupos de produtores de vinhos da região de Bordeaux reunidos desde 1984 e tem como  filosofia o “savoir-faire", ou seja, extrair toda a nobreza dos terroirs de Bordeaux para produzir vinhos que primam pela qualidade e caráter produzidos em vinhedos de origem controlada sendo o principal produtor da indústria de vinhos AOC de Bordeaux.
 
Através do forte relacionamento e interação com seus produtores e consumidores, e rígido controle no processo desde a vinícola até o engarrafamento, a Univitis desenvolveu uma poderosa ferramenta que eleva a qualidade de seus produtos e contribui para a satisfação de seus consumidores atuais e potenciais. Em 2005 foi premiada com certificação da Agricultura Sustentável, em reconhecimento as inovações técnicas que respeitam o meio ambiente. A Univitis foi pioneira com um programa de Desenvolvimento Sustentável na região. Hoje, se estende por 130 hectares e comercializa uma vasta gama de vinhos de Bordeaux e do Sudoeste da França.
 
Visualmente mostrou uma cor rubi clara e boa transparência - comuns aos vinhos com a Pinot Noir; lágrimas finas e lentas. No nariz a fruta madura e o floral estavam borbulhando na taça, tornando o aroma adocicado e enjoativo. Em boca seus taninos estavam macios, delicados e em harmonia com acidez e álcool; corpo médio com toques de piementa e o adocicado enjoativo aparecendo no retrogosto.
 
Não é um vinho ruim, porém possui características que não me agradam: o adocicado no nariz e em boca.
 
O Rótulo


Vinho: Grand Theatre
Tipo: Tinto
Castas: Pinot Noir
Safra: 2010
Garrafa: Cette Bouteille parte le 6971
País: França
Região: AOC Bordeaux
Produtor: Univitis
Graduação: 12%
Onde comprar: RM Express
Preço médio: R$ 32,00
Temperatura de serviço: 18º

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Brancos para Guardar

Por Alexandre Lalas

Eles são raros, mas, sim, há vinhos brancos secos que se prestam para longa guarda. Entenda como e por que alguns conseguem passar pela prova do tempo



O senso comum recomenda o consumo rápido dos vinhos brancos. E, de fato, na maioria dos casos, o tempo em garrafa não faz nem um pouco bem a esse tipo de bebida. Só que, como quase tudo na vida, há exceções que confirmam a regra. E no caso dos vinhos brancos, segundo a crítica de vinhos inglesa Jancis Robinson, cerca de 5% dos rótulos ficam ainda melhores cerca de cinco anos após a colheita. Quando o assunto é guarda longa, a coisa fica ainda mais restrita. "Acredito que não chegue a 1% o total de brancos que possuam características para envelhecer bem por mais de uma década", assinala Jancis.
 
Mas, embora raros, esses vinhos existem. Que o diga o colecionador francês Christian Vanneque que, em julho deste ano, pagou a bagatela de R$ 180 mil por um Château d'Yquem 1811. Ex-sommelier do restaurante parisiense La Tour d'Argent e um dos degustadores do famoso Julgamento de Paris, em 1976 - quando um punhado de vinhos californianos até então desconhecidos bateram, em prova às cegas, alguns dos mais celebrados vinhos franceses, mudando a história da indústria vitivinícola -, Vanneque chamou a compra de "uma pequena loucura" e pretende abrir a garrafa em 2017, quando completará 50 anos de carreira. Quando enfim provar o Yquem 1811, o francês poderá comprovar as palavras do crítico norte-americano Robert Parker, que degustou o vinho em 1996, dando-lhe os máximos 100 pontos e comparando a bebida a "um creme brûlée".
 
produtor friulano Josko Gravner (foto acima)
 aboliu o uso de barricas novas em seus vinhos.
Ele coloca tudo em uma grande ânfora
 de terracota e deixa lá por sete meses
Grandes vinhos brancos de sobremesa têm, de fato, uma capacidade de guarda maior. Não apenas o Yquem ou alguns vizinhos de Sauternes, mas grandes Tokaji, Massandra, Eiswein e Trockenbeerenauslese costumam envelhecer bem. A razão é a combinação entre a acidez e o açúcar residual presentes nesses vinhos, o que proporciona uma espécie de escudo contra os efeitos do tempo.
 
No entanto, não apenas os brancos doces são capazes de encarar um longo tempo na adega. Vinhos secos, como alguns grandes borgonheses, Riesling do primeiro time, Chenin, Sémillon, alguns Hermitage e uns poucos espanhóis e italianos, entre poucos outros, também entram com louvor nessa lista. Nesses casos, em que a quantidade de açúcar residual nos vinhos é baixa, a chave para a longevidade é a acidez.
 
 
Acidez e outros fatores
 
"O grande ponto é a quantidade de acidez. Ela agrega frescor e mantém o vinho vivo durante a passagem do tempo. A acidez é parte determinante da estrutura do vinho e é um fator decisivo na hora de determinar se um branco tem ou não capacidade de envelhecimento", diz Benjamin Joliveau, da Domaine Huet, uma vinícola do Vale do Loire que faz brancos secos e doces com longo potencial de guarda.
 
A chave para a longevidade dos vinhos brancos secos é a acidez. "Ela agrega frescor e mantém o vinho vivo durante a passagem do tempo", afirma Benjamin Joliveau

Mas, como bem destaca Joliveau, há outros fatores que, combinados com a acidez, influenciam na longevidade de um branco seco. "A concentração do vinho é outro fator determinante, assim como o corpo. Também depende do tipo de uva. Castas como Riesling e Chenin têm, de maneira geral, mais capacidade de produzir vinhos longevos do que a Chardonnay e a Sauvignon Blanc", explica. "Não podemos nos esquecer da viticultura. Solos, clones, rendimentos... Tudo isso influencia na concentração do vinho e influi diretamente na capacidade de guarda", prossegue.
 
O trabalho na adega é outro ponto importante a ser considerado. "A vinificação também tem um peso importante. Fazer a fermentação malolática faz com que a acidez do vinho baixe. Aqui em Huet, nunca usamos essa prática justamente por buscar um maior frescor. Manter essa acidez é importante para que o vinho possa envelhecer bem. Por fim, o tempo em barricas também influencia na oxigenação e oxidação de um vinho, influindo em sua capacidade de guarda", completa Joliveau.
 
"Se a uva viver bem..."

Um dos expoentes da viticultura biodinâmica e produtor cuja capacidade de guarda dos brancos que faz é incontestável, o francês Nicolas Joly traz outros pontos interessantes ao debate. "O potencial de guarda de um vinho é baseado no tipo de vida que a uva levou e do que foi feito na adega", ensina. "Práticas modernas encurtam enormemente o tempo de vida das uvas. A razão é simples: o uso do inseticida reduz a ação das raízes que buscam alimentação em micro- organismos no solo. Os inseticidas matam esses micro-organismos. Daí, a raiz volta à superfície para buscar a alimentação em fertilizantes químicos. Esse sistema polui a seiva e afeta diretamente a fotossíntese", explica Joly. "Portanto, essas práticas já reduzem o potencial de vida da uva e ainda prejudicam o gosto. Na adega, o excesso de tecnologia que é usado na produção do vinho, como a utilização de enzimas, gorduras, leveduras industriais e outras coisas que não são naturais da vinha, reduzem ainda mais a capacidade de vida do vinho", afirma.
 
Segundo o produtor francês, "a biodinâmica é apenas um catalisador das forças que a planta precisa para ser saudável. E, por conta disso, quase não precisamos fazer nada na adega. É claro que precisamos olhar o pH dos vinhos, mas o básico é o que já foi comentado", aponta Joly. O vitivinicultor conclui fazendo uma comparação. "Nos vinhos verdadeiramente biodinâmicos (há muitos que são mais marketing do que de fato biodinâmicos), muitas vezes necessitamos da agressão da oxidação para que o vinho mostre todo o potencial que tem. Esses vinhos costumam ficar ainda melhores dois dias depois que a garrafa é aberta. Em contraponto, vinhos produzidos por meio da agricultura moderna precisam justamente de forte proteção contra a oxidação, pois sozinhos não têm forças para lutar contra ela", finaliza.
 
Sem barrica?

O produtor friulano Josko Gravner tem ponto de vista semelhante ao de Nicolas Joly. Radical até a última gota, ele aboliu o uso de barricas novas nos vinhos que faz. Hoje em dia, executa um trabalho cuidadoso na vinha, coloca tudo em uma grande ânfora de terracota, sem adição de leveduras selecionadas, tampouco faz controle de temperatura. Veda, e deixa lá por sete meses. Depois, afina em grandes cascos neutros de madeira e o vinho é engarrafado sem clarificação e nem filtração, na lua crescente. Sete anos depois para os vinhos comuns e dez para os reservas, Gravner entrega ao mercado rótulos únicos, raros e com enorme potencial de guarda.
 
TODOS OS GRANDES ENVELHECEM BEM?

Em meados da década de 1990, uma onda de garrafas de vinhos de reconhecida qualidade produzidos na Borgonha, notadamente das safras 1996, 1997 e 1998, apresentaram uma precoce e surpreendente oxidação - problema que ainda persiste, embora em menor escala, nos dias de hoje. Mesmo vinhos de produtores renomados como Ramonet, Lafon, Bonneau du Martray, Roulot, Jean-Noel Gagnard, entre outros, apresentavam o quadro. Alguns vinhos tinham uma cor marrom, parecida com a de um oloroso. Aficionados pela região arrancavam cabelos e sacavam rolhas, desesperadamente, para conferir se as garrafas que repousavam nas adegas estavam ou não contaminadas pelo problema. Na ocasião, o Master of Wine Clive Coates publicou na revista inglesa Decanter o resultado de um estudo conduzido por ele a fim de investigar as causas do problema. Entre os "culpados pelo crime", Coates apontou o uso de prensas pneumáticas, bâtonnage excessiva, uma drástica diminuição no nível de sulfuroso usado para conservar o vinho e, principalmente, a má qualidade das rolhas usadas na vedação das garrafas. Um estudo conduzido por produtores borgonheses não chegou a nenhuma opinião conclusiva. Mas alguns dos fatores elencados por Coates tiveram ressonância. Jacques Seysses, da Domaine Dujac, compartilha a opinião de que as rolhas eram as grandes vilãs da história. Patrick Javillier, produtor em Meursault, entende que o uso de modernas prensas pneumáticas, que permitiam uma diminuição da exposição ao oxigênio do mosto, seja um dos fatores principais para a oxidação precoce. Já o Master of Wine Jasper Morris, especialista em comercializar vinhos da Borgonha, crê que a culpa seja da redução do uso do sulfuroso. Outro especialista em Borgonha, Stephen Brooks reconhece que os produtores têm feito de tudo para identificar e minimizar o fato. Mas adverte que ainda é impossível assegurar que o problema já faz parte definitivamente do passado.
 
"Quando o vinho nasceu, ele era branco. Os tintos ainda sequer pensavam em existir", provoca Gravner. "As uvas brancas, ao contrário das tintas, podem se beneficiar de um longo contato com a casca, que é onde moram os nutrientes capazes de dar longevidade ao vinho", resume. "E tanto a natureza sabe das coisas, que a podridão nobre ataca apenas as uvas brancas", conclui o italiano de sangue esloveno que, desdenhando das tendências, resguarda-se das voltas que o mundo dá se apegando às mais antigas tradições. Ele encontra nas experiências do passado o caminho do futuro, fazendo os vinhos como faziam os romanos.
 
Apego à tradição e ojeriza às tendências de mercado são pontos em comum entre Gravner e o espanhol Julio Cesar Lópes de Heredia, bisneto de Don Rafael Lópes de Heredia, o fundador da Viña Tondonia, vinícola de Rioja, mundialmente famosa pelos brancos espetaculares que produz - e que foi pano de fundo do filme "Onde Está a Felicidade?", de Bruna Lombardi. Seus vinhos têm a particularidade de chegar ao mercado muitas vezes mais de uma década depois que as uvas para a produção daquele rótulo foram colhidas.
 
"Acredito no mínimo possível de interferência, tanto na vinha quanto na vinícola. Os vinhos se fazem por si só", diz Julio Heredia. Embora o estilo da Tondonia - de brancos ricos em estrutura e com um toque de oxidação - seja cada vez mais raro em um mundo ávido por vinhos fáceis, o produtor não dá a mínima para as tendências e modas do mercado. "Nossos vinhos são, sim, diferentes, mas traduzem com exatidão o que é a Rioja. Há muitos produtores que dançam de acordo com a música, ficam indo de lá para cá e, a cada cinco anos, quando muda o gosto do consumidor, muda o vinho deles, não há identidade", critica.
 
Embora não possam ser tachados de vinhos comerciais, o fato é que o vinho feito na vinícola de Heredia vende, e bem. Prova inconteste de que não apenas há vinhos brancos que podem envelhecer bem, mas também há um time de consumidores cujas portas das adegas estão escancaradas para essas verdadeiras preciosidades.
 
Fonte: Revista Adega

domingo, 18 de novembro de 2012

Notícia que tem que ser disseminada

Vale dos Vinhedos, a primeira D.O. de vinhos do Brasil

O Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) deferiu ontem, 11, o pedido de registro de Denominação de Origem (DO) para o Vale dos Vinhedos. A decisão foi publicada na RPI 2175. Agora, o Brasil possui sua primeira DO de vinhos e espumantes, modalidade mais complexa e valiosa de uma Indicação Geográfica (IG). A luta por essa conquista vinha sendo encabeçada pela Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (Aprovale), criada em 1996. De lá para cá, o sonho da DO sempre acompanhou o trabalho da entidade, ganhando força em 2010 quando o pedido foi oficializado.

O terroir dos vinhos do Vale já é reconhecido graças aos parâmetros de qualidade aplicados pelas vinícolas a partir da certificação da Indicação de Procedência. A D.O., por sua vez, representa a evolução deste padrão, levando a público o potencial e a maturidade produtiva das vinícolas do Vale dos Vinhedos. O presidente da Aprovale, Rogério Carlos Valduga, destaca que a conquista da DO vem fortalecer ainda mais a identidade dos vinhos elaborados no Vale dos Vinhedos, já reconhecida em 2002, quando os vinhos e espumantes das vinícolas que integram o roteiro foram os primeiros produtos brasileiros a obter uma Indicação Geográfica (IG) na modalidade Indicação de Procedência (IP).

O registro da DO evidencia diferenciais que demonstram que o produto é patrimônio regional, com normas que preservam a sua identidade. Com a conquista, a perspectiva de obtenção de vantagens é ainda maior, tanto por parte dos produtores quanto dos consumidores. Além disso, a DO também atua no controle da qualidade da produção, desde o plantio das uvas, passando pelo processo de elaboração, até a comercialização dos vinhos. "O consumidor, quando estiver na gôndola de um supermercado, em uma loja de vinhos ou na mesa de um restaurante, ao escolher um vinho com DO Vale dos Vinhedos, vai ter a tranquilidade e a garantia da qualidade do produto daquela garrafa", ressalta o presidente.

Agora, a Aprovale estará intensificando seu trabalho de esclarecer e consolidar os conceitos de IG, IP e DO, que por serem relativamente recentes no Brasil, ainda não são compreendidos pelo mercado consumidor. Já na Europa, já estão internalizados pelos consumidores por serem utilizados há séculos. Em uma linguagem simples e acessível, o Manual da Indicação Geográfica Vale dos Vinhedos traz as regras da DO e os benefícios que o consumidor e também a comunidade do Vale dos Vinhedos ganham com a certificação.

A produção do Vale dos Vinhedos varia entre 12 e 14 milhões de garrafas de vinhos finos por ano. Cada propriedade do Vale dos Vinhedos tem, em média, 2,5 hectares cultivados por videiras. Trata-se de vinícolas de pequeno porte, mantidas por famílias que cultivam vinhedos próprios e elaboram seus vinhos. Com isso, a prioridade é agregar valor ao produto em razão da qualidade, além de manter o homem do campo no interior.

Com a concessão do primeiro registro de IG, em 2002, a produção da região aumentou cerca de 30%. Com a DO, a expectativa é crescer mais 10%, porém a qualidade antecede a quantidade.
 
Regras da Denominação de Origem Vale dos Vinhedos

O Vale dos Vinhedos é a primeira região com Denominação de Origem (DO) de vinhos no país. Sua norma estabelece que toda a produção de uvas e o processamento da bebida seja realizada na região delimitada do Vale dos Vinhedos. A DO também apresenta regras de cultivo e de processamento mais restritas que as estabelecidas para a Indicação de Procedência (IP), em vigor até a obtenção do registro da DO.
 
Produção vitícola:

- As uvas devem ser totalmente produzidas na região delimitada pela IG e conduzidas em espaldeira.
- A irrigação e o cultivo protegido não são autorizados. A colheita é feita manualmente.

Cultivares autorizadas:

- Tintas: Merlot, como cultivar emblemática e Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat como variedades complementares.
- Brancas: Chardonnay como cultivar principal e Riesling Itálico como variedade complementar.
- Para espumantes (brancos e rosados): Chardonnay e/ou PinotNoir como variedades principais e Riesling Itálico como variedade auxiliar.

Limites de produtividade:

- Para uvas tintas: 10 toneladas/ha ou 2,5 kg de uva por planta.
- Para uvas brancas: 10 toneladas/ha ou 3 kg de uva por planta.
- Para uvas a serem utilizadas na elaboração de espumantes: 12 toneladas/ha ou 4 kg de uva por planta.

Produtos autorizados:
 
Vinhos tintos

- Varietal Merlot: Mínimo de 85% da variedade.
- Assemblage Tinto: Mínimo de 60% de Merlot, podendo ser complementado pelas demais variedades autorizadas.
- A comercialização somente pode ser realizada após um período de 12 meses de envelhecimento.

Vinhos Brancos

- Varietal Chardonnay: Mínimo de 85% da variedade.
- Assemblage Branco: Mínimo de 60% de Chardonnay, podendo ser complementado por Riesling Itálico.
- A comercialização somente poderá ser realizada após um período de seis meses de envelhecimento.

Espumantes

- Base Espumante: Mínimo de 60% de Chardonnay e/ou PinotNoir, podendo ser complementado por RieslingItálico
- Elaboração somente pelo Método Tradicional
- O processo deverá durar no mínimo nove meses

Graduação alcoólica:
 
- Tintos: mínimo de 12%, em volume
- Brancos: mínimo de 11%, em volume
- Base espumante: máximo de 11,5%, em volume

Outras normas:

 
- O espumante deve ser elaborado somente pelo "Método Tradicional", com segunda fermentação em garrafa, que deve constar no rótulo principal, nas classificações nature, extra-brut e brut.
- A chaptalização e a concentração dos mostos não são permitidas. Em anos excepcionais o Conselho Regulador da Aprovale poderá permitir o enriquecimento em até um grau. - Pode haver a passagem dos vinhos por barris de carvalho, não sendo autorizados "chips"e lascas ou pedaços de madeira.

Processo de rastreabilidade: A Aprovale possui um Conselho Regulador responsável pelo regulamento de uso da Indicação Geográfica do Vale dos Vinhedos. Cabe a este conselho fazer o controle e fiscalização dos padrões exigidos pela normativa da atual IP e da DO. O Conselho Regulador mantém cadastro atualizado das vinícolas solicitantes da certificação e utiliza informações do Cadastro Vitícola do Ministério da Agricultura, coordenado pela Embrapa Uva e Vinho, para determinar a origem da matéria-prima. Para controle da certificação são utilizadas as declarações de colheita de uva e de produtos elaborados, a partir das quais retira as amostras para análises físico-químicas, organolépticas e testemunhais. Estas amostras são lacradas e codificadas. Essa sistemática permite a rastreabilidade dos produtos.

Padrões de identidade: Os produtos somente recebem o certificado após comprovada a origem da matéria-prima. 100% da uva deve ser procedente da área demarcada. Também precisam ser aprovados nas análises físico-químicas e na avaliação sensorial (degustação às cegas), realizada pelo Comitê de Degustação, composto por técnicos da Embrapa, técnicos de associados da Aprovale e da Associação Brasileira de Enologia.

Rotulagem:
 
- Os produtos engarrafados da D.O são identificados no rótulo principal e no contrarrótulo.
- Os vinhos tranqüilos podem identificar a safra e a variedades.
- Os espumantes devem utilizar a expressão "Método Tradicional".
- Para o contrarrótulo, além das informações estabelecidas pela legislação brasileira, os espumantes podem identificar as variedades utilizadas, o tempo de contato com as borras e o ano de "dégorgement".
- É obrigatório o uso da numeração de controle sequencial.
 
Fontes: Adega & Vinhos e Google Imagens