terça-feira, 21 de abril de 2015

Alguns termos para axuliar os iniciantes a escolher seus vinhos

Lá está você em frente a uma prateleira de vinhos no supermercado e o atendente do setor, solícito, aproxima-se oferecendo ajuda. Você tasca logo um "este vinho é suave?" e ele, alguém com certo conhecimento do assunto, possivelmente lhe diz que não, que é um vinho seco. Antes que você coloque sua pior cara de enfado e saia atrás de uma boa, velha e conhecida cerveja, saiba que não é o primeiro nem o último a passar por isso.
 
A linguagem do vinho é estranha? Sim, mas não se trata de caso único. Como qualquer outro ramo, temum jargão específico. Por isso, o vinho (como a informática, a música ou o futebol) criou um vocabulário muitas vezes incompreensível para a maioria das pessoas. Mas nada que não possa ser dominado com um pouco de prática e repertório.
 
"Suave", tecnicamente falando, é um vinho “não-seco". Isto é, um vinho doce que recebeu uma dose de açúcar após a fermentação da uva. É, na maioria das vezes, um vinho de menor qualidade, pois os vinhos doces tiram seu dulçor do açúcar residual da própria uva.
 
A linguagem do vinho tem seus truques e armadilhas. Ao provar um vinho leve, macio, delicado, e não-doce, diga que ele é leve, macio e delicado. Pronto. É algo fácil de avaliar e você não corre o risco de parecer pedante — ou soar como quem diz uma besteira. Só não tenha medo de falar sobre isso.
 
Com algumas dicas e termos muito usados, você não vai se intimidar no próximo papo em torno de uma garrafa.
 
 
1. Varietal
 
É um vinho feito geralmente com apenas uma variedade de uva. Se a legislação local permitir, pode-se adicionar uma pequena percentagem de outra uva. O hábito de nomear a variedade no rótulo surgiu com os produtores do novo mundo, ou seja, fora da Europa. Nos países europeus, a legislação de Denominação de Origem Controlada (a sigla AOC ou DOC que você vê nos rótulos franceses, italianos, etc.) restringe o uso de variedades por região. Mas isto muda para cada país. O exemplo mais famoso seria a Borgonha. Seus brancos são quase todos de chardonnay (há uvas quase abandonadas, como a aligoté) e seus tintos, de pinot noir.
 
2. Região
 
Um dos fatores mais importantes para definir a qualidade de um vinho. As regiões vinícolas europeias são estabelecidas há séculos. Porto, Bordeaux, Rioja e Chianti, por exemplo, têm o nome e a história associados ao vinho. Recentemente, países como Chile e Argentina vêm apostando mais neste diferencial. A Argentina, com suas macro-regiões Salta, Patagônia e Mendoza, especialmente esta última, faz um trabalho interessante neste sentido. Antes detectava-se pelo rótulo que o vinho era de Mendoza, uma região imensa. Hoje, é comum ler que o vinho tem origem em Tupungato, Vale de Uco, Lujan de Cuyo ou Maipú, entre outras. O Chile não fica atrás e declara onde nascem seus vinhos. Limari, Aconcagua, Casablanca, Leyda ou Maipo são cada vez mais mencionados entre os amantes do vinho chileno.
 
3. Terroir
 
É a combinação única dos fatores climáticos, geológicos e culturais que aparecem no vinho. Aquele rótulo que vem de um local frio, chuvoso, onde se cultivam vinhedos por mais de mil anos, será bem diferente de outro que veio de um deserto ensolarado, onde as vinhas começaram a ser plantadas no começo do século XX. Ao provar um pinot noir chileno e outro da Borgonha, feitos com a mesma variedade de uva, você notará uma diferença clara. Uma corrente importante nega a relevância do terroir nos vinhos fora da Europa. Cada vez mais, contudo, os bons produtores provam a força de seu terroir, seja no Chile, Argentina, Uruguai ou Austrália.
 
4. Madeira
 
Apesar de outros tipos de barrica serem usadas na fabricação do vinho, a enorme maioria delas é feita de carvalho. Sua origem pode ser basicamente francesa, americana ou do leste europeu. Cada uma destas origens dá características específicas ao vinho. E o enólogo é quem decide qual usar, em qual proporção e por quanto tempo. Ele pode utilizar uma percentagem de barricas de carvalho francês e guardar uma pequena parte do vinho em barricas de carvalho americano. Diz a lenda que o americano aporta mais aromas de baunilha, por exemplo. Quanto mais velho e rodado o barril, menos ele interfere no aroma e no sabor. Sua função é apenas oxigenar por meio dos poros da madeira. Mas não só isso. Cada barril recebe uma tostagem em seu interior antes de ser usado. O grau da tosta também interfere no resultado final, e muito. Basta procurar aromas de café, chocolate e caramelo no vinho tinto ou de creme de leite, manteiga e baunilha, nos brancos. Se os encontrar, grande serão as chances de o vinho ter passado algum tempo por madeira.
 
 
Tipos básicos de vinho
 
5. Tranquilo
 
Quando as pessoas pensam em vinho, quase sempre têm em mente o vinho tranquilo, isto é, aquele que não é nem espumante, nem doce. Ele pode ser branco, rosé ou tinto. Geralmente, trata-se do vinho que bebemos com a refeição.
 
6. Vinho de Sobremesa
 
Um vinho de sobremesa deve ser doce o suficiente para não parecer aguado ao lado de uma sobremesa. Há três maneiras básicas de produzir vinhos de sobremesa. Todas elas consistem em deixar parte do açúcar da uva (que viraria álcool durante a fermentação) permanecer na garrafa.
 
Na colheita tardia, a uva colhida muito madura, quase passa e murcha, tem menos água e uma maior concentração de açúcar natural. Em seu processo de fermentação, as leveduras não conseguem finalizar a transformação do açúcar, tamanha a quantidade, em álcool. E, como a fermentação não se completa, o resultado é um vinho doce, também denominado Late Harvest.
 
Botritizado é o vinho atacado por um fungo benigno que, ao atingir a casca da uva, faz uns furinhos. Nesse processo, há evaporação e um efeito parecido com o explicado no item anterior. São alguns dos mais valorizados vinhos de sobremesa do mundo. Mas é também o acompanhante mais cotado do foie gras.
 
Outra maneira comum de manter o açúcar da uva no líquido é interromper a fermentação com a adição de álcool (normalmente um álcool de uva), matando assim as leveduras. É o vinho fortificado. O exemplo mais famoso é o vinho do Porto. Em geral, tem um grau alcoólico maior. É uma grande companhia para queijos em geral.
 
7. Espumante
 
São os vinhos com "bolinhas" ou "borbulhas", como se diz em Portugal. O vinho espumante é gaseificado naturalmente. Quase todas as regiões vinícolas produzem espumantes. A mais famosa delas é a de Champagne, na França, por isso ocorre de as pessoas intitularem champagne qualquer espumante. Não cometa este erro. Até porque, entre os espumantes mais interessantes do mundo, estão as Cavas da Espanha, os Franciacorta italianos e, vale destacar, os ótimos espumantes brasileiros.
 
Os espumantes podem ter seis classificações conforme o teor de açúcar: Doux (doce), Demi-Sec (meio-seco), Sec (seco), Extra-Sec (extra-seco), Brut (bruto), Extra-Brut (extra-bruto) e o "Nature" (Pas Dose).
 
Não se engane quem leu o começo do artigo. Este Sec é doce, sim. Se você quer provar um espumante que não seja doce, tente Brut, Extra-Brut ou "Nature". Eu avisei que a linguagem do vinho tinhas uns truques e armadilhas...
 
Fonte: GQ Brasil

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