quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Vinho gaúcho ganha destaque no Exterior

Pelas sinuosas estradas do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, cruzam nesta época do ano picapes com alguns dos mais renomados pesquisadores e consultores do mundo em cultivo de uva. Italianos, portugueses, chilenos e brasileiros cumprem uma jornada em vinícolas e seus parreirais, avaliando a qualidade de solo e brotos neste início de safra e indicando quais uvas darão os melhores vinhos.
 
Sotaques estrangeiros também ecoam nas cavas. Americanos e japoneses percorrem os gélidos corredores onde as garrafas repousam para selecionar alguns exemplares e levarem a seu país, para quem sabe fechar um contrato comercial nas semanas seguintes. Há ainda os críticos e jornalistas estrangeiros, que às dezenas degustam amostras das safras mais recentes para dizer aos seus leitores o que esperar do vinho gaúcho produzido em 2013. O mundo está curioso.
 


Nos últimos anos, o Rio Grande do Sul vem ganhando reputação no seletíssimo mundo do vinho fino, feito com uvas especiais. Com o auxílio de especialistas, renovação de equipamentos e aposta em ofensivas comerciais, as vinícolas conseguem, passo a passo, colocar o vinho no mesmo hall da fama alçado pelos espumantes no início dos anos 2000.
 
— No final dos anos 90, as vinícolas passaram e substituir os parreirais de uvas comuns por uvas para vinhos finos. Foi um processo lento, exigiu altos investimentos, mas que agora atrai a atenção do mundo — explica Juarez Valduga, diretor da Casa Valduga e presidente da Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos (Aprovale).
 
Em 2013, os vinhos e espumantes brasileiros já colecionam 80 prêmios internacionais. A grande maioria foi vencida pelos borbulhantes, mas os vinhos despontaram em algumas das principais competições, como o Concurso Mondial du Merlot, na Suíça, e o San Francisco International Wine Competition, nos Estados Unidos.
 
As medalhas chamaram a atenção da imprensa internacional. Nas últimas semanas, críticos e jornalistas publicaram reportagens sobre o terroir brasileiro. Veículos como o Le Monde, principal diário da França, e a Revista Decanter, mais importante do mundo da enologia, elogiaram a variedade merlot do Rio Grande do Sul, descrevendo-a como à altura dos melhores vinhos chilenos ou argentinos, cuja fama internacional é conhecida. O crítico Steven Spurrier, celebrizado no filme O Julgamento de Paris, disse em artigo que o vinho brasileiro é leve e afável a paladares de jovens.
 
— Muitos dos vinhos do Rio Grande do Sul já alcançaram a qualidade dos europeus. Nos últimos anos, foram-se definindo as melhores uvas para cada tipo de solo e aprimorados os processos de fermentação e amadurecimento. Esse reconhecimento não é gratuito — afirma o sommelier e consultor italiano Rabachino Roberto, um dos participantes da Avaliação Nacional de Vinhos, que ocorreu no final de semana passado em Bento Gonçalves.
 
O ganho de reputação fermenta a venda das vinícolas. No primeiro semestre deste ano, as exportações subiram 1,7% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). No mercado interno, a participação do vinho nacional fino cresceu suavemente sobre o importado, passando de 22,4% para 22,7%.
 
— Com a proximidade da Copa e das Olimpíadas, o mundo está interessado em conhecer os produtos brasileiros, é uma janela importante para o vinho. As exportações podem crescer 30% ao ano até 2016 — projeta Andreia Gentilini Milan, diretora de promoção comercial do Ibravin.
 
Todo o marketing, entretanto, não conseguiria despertar os paladares mais exigentes não fossem pelas inovações trazidas pelas vinícolas nos últimos 15 anos. Após perder mercado para chilenos e argentinos desde os anos 70, os produtores brasileiros, com apoio de instituições como a Embrapa, reagiram com pesquisa de solo e novas técnicas de cultivo. Descobriram, por exemplo, a propensão das terras gaúchas a dar bons merlot, o que possibilitou escapar da concorrência dos cabernet sauvignon chilenos e os malbec argentinos. Também melhoraram as condições de cultivo de uvas como chardonnay, base para espumantes que hoje são comparados aos champanhe franceses.
 
— Tivemos uma nova geração de enólogos que, após estudarem no exterior, trouxeram ao Brasil novas variedades de uvas e visão de mercado, somando ao conhecimento dos mais experiente. Hoje há expansão do cultivo para novas regiões e vinhos de qualidade indiscutível — analisa Christian Bernardi, diretor da vinícola Gran Legado e conselheiro da Associação Brasileira de Enólogos.

Por: Erik Farina
Fotos: Bruno Alencastro

Fonte: Zero Hora

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