A possibilidade de fabricar vinhos finos em um Estado famoso pela produção de café, fez com que o agricultor Júnior Porto vislumbrasse um novo mercado. Dono de uma fazenda em Cordislândia, no sul de Minas Gerais, Porto produzia leite, café e milho. Mas investiu, em 2004, em parreirais de uvas e hoje se prepara para lançar sua primeira bebida.
A marca, que se chamará Luiz Porto, em homenagem ao pai do produtor, está prevista para ser comercializada até o fim do ano. A previsão inicial é de 10 mil garrafas que serão vendidas para os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
O produtor mantém 15 hectares em sua fazenda cultivados com oito tipos de uva próprios para vinhos finos (viníferas), com colheita anual de 55 toneladas.
Porto informa que a produção na região só foi possível com a implantação de uma tecnologia trazida da França pelo pesquisador Murilo Albuquerque, da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais). A técnica chamada de "ciclo invertido" permite que a colheita das uvas aconteça no inverno, longe do período chuvoso, e não no verão, como ocorre no Sul.
Segundo Albuquerque, as uvas precisam de período seco, com dias ensolarados e noites frescas, clima típico do sul de Minas. O pesquisador informa que o Estado cultivava uvas para o consumo direto, como fruta, mas não as variedades europeias voltadas para a produção de vinho.
Ele diz que os testes iniciais com a técnica francesa foram feitos na Fazenda da Fé, em Três Corações (MG). Os primeiros resultados vieram em 2004, mas só em 2010 foram produzidos vinhos com as uvas Sauvignon Blanc e Shiraz, variedades que até agora melhor se adaptaram à região.
O rótulo Primeira Estrada está no mercado desde janeiro deste ano, com uma safra inicial de 10 mil garrafas vendidas para São Paulo e Rio de Janeiro. O preço ao consumidor é de R$ 70.
"Acaba se tornando uma alternativa ao café, que vive em uma crise", afirma Albuquerque. Segundo ele, a previsão é que até o final de 2014, o Estado lance cinco rótulos.
Segundo o pesquisador da Epamig, o sucesso da técnica francesa chegou a três cidades paulistas que fazem fronteira com Minas Gerais. "Por enquanto, os produtores colhem suas primeiras safras", informa Albuquerque.
Condições climáticas produzem vinhos diferentes
O clima influencia na qualidade da uva que, por sua vez, determina a diferença dos vinhos. "É o que acontece se compararmos os vinhos produzidos no Sul e no Sudeste" diz Marcos Vian, enólogo e diretor técnico da ABE (Associação Brasileira de Enologia).
Segundo ele, as uvas produzidas no sul de Minas dão origem a vinhos mais alcoólicos, menos ácidos e mais encorpados que lembram os produtos do Chile e da Argentina. "São bons vinhos que acompanham bem carnes vermelhas ou pratos substanciosos", diz.
Conforme Vian, as uvas do Sul dão origem a vinhos mais próximos dos europeus, vendidos na França e na Itália, mais moderados e menos alcóolicos.
Para ele, só há pontos positivos no surgimento de novas produções brasileiras. "Ter vinícolas próximas às pessoas aumenta o interesse em provar e conhecer os vinhos existentes no mercado", diz.
De acordo com a ABE, o Brasil possui 800 vinícolas cadastradas.
Por Priscila Tieppo
Fonte: Uol Economia
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