Nas histórias para crianças, muitas vezes há tesouros perdidos no fundo do mar. Neste caso, a realidade imitou a ficção, quando um grupo de mergulhadores encontrou 168 garrafas de champagne nas profundezas do mar Báltico, nos destroços de um barco que afundou em 1840, há 170 anos.
A descoberta foi feita em 2010, mas só agora se conhecem os resultados das análises sensoriais e químicas levadas a cabo por uma equipe liderada por Philippe Jeandet, professor de bioquímica alimentar na Universidade de Reims, capital da região francesa de Champagne, a amostras do conteúdo das garrafas encontradas no fundo do mar Báltico.
Na escuridão e baixas temperaturas que se fazem sentir a 150 metros de profundidade, a famosa bebida, usufruiu das condições ideais para envelhecer e chegar de meados do século XIX ao século XXI com grande qualidade.
Pelo menos, é essa a opinião de Philippe Jeandet, que embora só tenha provado duas gotas do precioso néctar, o classifica como "muito jovem, com bastante frescura e uma nota floral ou frutada". Disse ainda terem ficado impressionados "por constatar que o champagne que testámos, estava perfeitamente conservado, seja do ponto de vista da composição química, seja do aroma".
Foi quase um trabalho de detetive para a equipe de investigadores. Como os rótulos desapareceram por ação da água, foram as rolhas a fornecer a informação sobre as marcas encontradas. Uma delas, a Veuve Clicquot Ponsardin, ainda existe, o que permitiu uma comparação de resultados.
A conclusão surpreendeu o próprio Jeandet, uma vez que não há assim tantas diferenças entre a forma como foram produzidas as garrafas encontradas no Báltico e o champagne que é consumido atualmente, ou seja, já nessa época se devia "controlar a qualidade do vinho muito bem", indica.
As análises químicas revelaram que o champagne atual tem um teor alcoólico mais elevado, mas os níveis de açúcar são inferiores. A explicação pode estar no clima que era mais frio em meados do século XIX e na adição de açúcar no final do processo, habitual nessa época. "O vinho do Báltico que analisámos contém 140 gramas de açúcar por litro, em comparação com os cerca de 6 a 8 gramas, que se usam hoje", contou Jeandet.
Os investigadores detectaram também vestígios de metais e madeira no produto antigo, o que se explica pelo modo de produção e pelos recipientes usados. Usava-se o ferro nos recipientes da uva e o vinho envelhecia em carvalho. Por outro lado, as vinhas eram tratadas com sulfato de cobre, enquanto hoje se usam fungicidas orgânicos.
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Afinal, não é uma bebida qualquer que é capaz de surpreender um perito em Champagne, como Jeandet, que descreveu a prova dizendo que "Foi incrível. Nunca tinha provado um vinho assim na vida. O aroma ficou na minha boca por três ou quatro horas depois de prová-lo".
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